terça-feira, novembro 30, 2004

Depois de uns dias muito complicados...

...nada melhor do que um dia extremamente complicado para tudo começar a parecer melhor.

Como estava a tentar explicar a uma amiga que não é de cá:
«Today, Carrot finally made the right decision. It was a great day to work at a radio station».

sexta-feira, novembro 26, 2004

Dias da Rádio

Eu sei que não tenho escrito. Eu sei que quando escrevo tem sido para pôr fotografias e textos de outrém. Mas, é preciso dizer, que quando os ponho também passam a ser meus. A Arte não tem dono, ou tem? Não sei. Um amigo meu tinha um cão, ele era o dono dele. Mas também tinha um anão lituano. Era o dono dele? Não sei. Isto não teve piada, foi forçado, e eu tenho pressa. Têm sido dias um bocado frenéticos. Mas as coisas hão-de acalmar, ou não? Ok. Hoje apetece-me fazer uma coisa que se faz muito num certo blog «conhecido». Daqueles da elite, estão a ver? Hoje, apetece-me dizer que hoje acordei assim:


I've been really tryin', baby
Tryin' to hold back this feeling for so long
And if you feel like I feel, baby
Then, c'mon, oh, c'mon
Let's get it on
Ah, baby, let's get it on
Let's love, baby
Let's get it on, sugar
Let's get it on
We're all sensitive people
With so much to give
Understand me, sugar
Since we've to be here
Let's live
I love you
There's nothing wrong with me
Loving you, baby no no
And giving yourself to me can never be wrong
If the love is true
Don't you know how sweet and wonderful life can be
I'm asking you baby to get it on with me
I ain't gonna worry
I ain't gonna push, won't push you baby
So c'mon, c'mon, c'mon, c'mon, c'mon, baby
Stop beatin' 'round the bush
Let's get it on
Let's get it on
You know what I'm talkin' 'bout
C'mon, baby
Let your love come out
If you believe in love
Let's get it on
Let's get it on, baby
This minute, oh yeah
Let's get it on
Please, let's get it on
C'mon, c'mon, c'mon, c'mon, c'mon, baby
Stop beatin' 'round the bush
Oh, gonna get it on
Threaten' you, baby
I wanna get it on
You don't have to worry that it's wrong
If the spirit moves ya
Let me groove ya good
Let your come down
Oh, get it on
C'mon, baby
Do you know the meaning?
I've been sanctified
Girl, you give me good feeling

Let's Get it On, Marvin Gaye

terça-feira, novembro 23, 2004

Eu tive a grande ideia


(...)
Chega de bandido pra prender,
de bala perdida pra deter
Eu tenho uma idéia:
Você na minha teia

Chega de assalto pra impedir,
Seja em Brasília ou aqui
Eu tive a grande idéia:
Você na minha teia

Hoje eu estou nas suas mãos
Nessa sua ingênua sedução
que me pegou na veia
Eu tô na tua teia

Jorge Vercilo, Homem-Aranha

segunda-feira, novembro 22, 2004

As verdadeiras filhas dos anos 80

Assim para o parvinho, assim para o fútil. Coleccionadoras de paixonetas, distribuídoras de sentidos abraços e amantes da permanente. Giras, engraçadas e, lá no fundo, óptimas pessoas. Os sonhos da primeira puberdade? Ou não? E por que é que ninguém dizia alguma coisa?



quinta-feira, novembro 18, 2004

Vieira da Silva

Exposição «Vieira da Silva nas Colecções Internacionais», na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, até 30 de Janeiro. Se eu tivesse conhecimentos substanciais de pintura até vos falava na fragmentação da quintessência, da contenção/explosão dos traços, da multidimensionalidade da representação e na exploração do intrínseco. Mas como não tenho, e porque pior do uma obra falhada só mesmo um discurso proto-académico sobre arte, digo-vos: «vão lá».

É já ali na Praça das Amoreiras. Isso... perto do pátio Bagatela e daquela cantina barulhenta a que chamam Caruso.
Querem uns desenhos?




«Precisamos de acreditar na certeza. Mas habituei-me a acreditar que não há nada estável, que tudo muda continuamente. (...) Não se sabe, nunca se sabe. (...) É a incerteza que é a minha certeza. O mundo muda. Os olhos mudam. (...) Tudo é tão subtil! Por vezes, pelo caminho da arte sinto iluminações súbitas mas fugazes e sinto então, passageiramente uma confiança total, fora do domínio da razão. (...) Na minha pintura, vê-se essa incerteza, esse labirinto terrível. É o meu céu, esse labirinto, mas talvez que no meio desse labirinto encontraremos uma certeza pequenina. (...) Creio que o que se pinta não se vê. É aí, no nosso corpo todo que isso se passa, e na nossa mão evidentemente.»

Maria Helena Vieira da Silva, citada na mAGAZINE Artes, que, por sua vez, revela uma incapacidade bizarra na identificação das fontes textuais (que diria São J.W.?!).

terça-feira, novembro 16, 2004

How I learned to stop worrying and love the Bomb

Não é um grande álbum de U2. Não podia ser. Não agora, não depois da trilogia dos anos 90, depois de Achtung Baby - Zooropa - Pop. Mas é o novo disco da maior banda de rock n' roll da actualidade (eu disse maior, não melhor, escusam de ficar com os pêlos das costas eriçados), e é bom, é bastante bom. Não subscrevo a teoria de que, para mim, qualquer coisa que os U2 editem seja boa. Pode ser comestível, pode ser experimental, ou até uma grande merda. Claro que não há nenhum disco deles que eu não goste, mas há muitas canções que são francamente más. Alguns dos b-sides, por exemplo, são, na sua grande maioria, pedaços de bosta recauchutada. Também não sou ouvinte frequente da fase inicial, outra trilogia: Boy - October - War.
How to Dismantle an Atomic Bomb é um bom álbum para qualquer fã da música dos U2; um presente de Natal seguro para pessoas com menos de 35 anos que se vistam de maneira normal; e um testemunho que diz, nas palavras do Bono, «we shall not go down easily».

O mundo já foi conquistado, o Tratado de Tordesilhas já é História. Já houve Trabants pendurados num palco, limões gigantes que se transformavam em bolas de discotecas e deixavam sair músicos lá de dentro, conferências de imprensa dadas no Wall Mart e Rock The Vote. Agora é brincar aos maiores do mundo. É fazer discos que mostrem aquilo que se sabe fazer bem, e tentar que as pessoas percebam porque é que o Edge não se importa de ser o guitarrista mais subvalorizado da história do Rock (resposta: porque é um génio). É continuar a fazer discos que mexam com as pessoas, que apertem qualquer coisa cá dentro. Há melhores, é verdade. Vai ser um clássico? Não me parece. Mas tem Vertigo, que mostra que eles estão atentos ao que se passa. Possante, mas ligeiro, não deixa muito espaço para complacências, chegando até a abrir um estrada para um caminho com possibilidades interessantes e que podia levar a resultados surpreendentes, ou mesmo maus. Tem Miracle Drug, a roçar os contornos daquele rock épico desavergonhado que já ninguém tem muita coragem de fazer. Uma canção do caralho. Atenção também a Original of The Species, Crumbs From Your Table, City of Blinding Lights e Sometimes You Can't Make It On Your Own. Prometem-se refrões daqueles em que a voz do Bono acaba com qualquer hipótese de uma noite calma; guitarras etéreas, flutuantes, omnipresentes, que, invariavelmente, caem do céu a rasgar a banalidade de algumas das letras; linhas de piano simplesmente bonitas, e a secção rítmica a tentar puxar tudo para a Terra. Nada de novo, mas bom, sempre bom.

E é sempre bom não esquecer que ao vivo o álbum vai ganhar nova dimensão (ver o que aconteceu com o Pop, por exemplo). Que há canções que vão ser remetidas para a obscuridade, enquanto outras serão reiventadas, redescobertas, reinterpretadas. E saber também que há muitos refrões para gritar no meio de muita gente suada e desafinada, que sabe que ninguém sai indiferente de um concerto dos U2, que sabe que os U2 são a maior - e a melhor - banda do mundo.


Um génio sem o seu barrete (no Barreiro)

segunda-feira, novembro 15, 2004

Geldof, the Grey

domingo, novembro 14, 2004

Uma certa e determinada situação

Parece que houve certas e determinadas pessoas que, e isto sem dizer nomes e sem referir que trabalham num certo e determinado jornal lisboeta, tendo reparado numa confusa gralha num post anterior (Antes de qualquer coisa), preferiram não fazer ondas nem chamar a atenção, guardando para si momentos cúmplices de riso escarninho e perfídia trocista.

A distracção era a seguinte: a meio do texto chamar Before Sunrise quando me queria referir a Before Sunset, impedindo assim a distinção entre os dois filmes, e dando um teor altamente esquizofrénico ao post, ainda mais do que é normal por aqui.

Preferiram, dias depois da distraída ocorrência, chamar-me a atenção num certo e determinado evento de cariz social, o que me deixou num estado de alta perturbação e à beira de um ataque de cefaleias intensas causado por sobredosagem de alho e oregãos, temperados com azeitonas pretas. Isto sem falar na dura semana que passou desde a produção da infame gralha até à sua pronta rectificação. Do porteiro do meu prédio - um búlgaro impiedosamente cáustico - ao senhor Lionel que, desde há uns anos a esta parte, me vende sempre a fartura da manhã, senti olhares de austera reprovação e o espectro de comentários mesquinhos que aterravam subtilmente nas minhas costas. A própria senhora Matilde, funcionária da bilheteira do cinema a que me dirijo habitualmente, tem evitado qualquer tipo de contacto visual, tendo encarregado o dedo mindinho do pé direito de todas as futuras comunicações com a minha pessoa.

Mas pronto, já passou.

E a Paula Rego?
Ah sim, a Paula Rego...

Branca de Neve, Paula Rego

sábado, novembro 13, 2004

Hora de amor

Vem.
Adormece encostada a este braço
Mais débil do que o teu.
Entrega-te despida
Nas mãos de um homem solitário
Que a maldição não deixa
Que possa sequer lutar por ti.
Vem,
Sem que eu te chame, ou te prometa a vida.
E sente que ninguém,
No descampado deste mundo, tem
A alma mais guardada e protegida.


Miguel Torga

sexta-feira, novembro 12, 2004

The Man Jose

I sat the players down and told them: I've won the European Cup, the UEFA Cup and the League.. none of you have won a single thing. So what are you going to do about it?
JOSE'S AMAZING PUT-DOWN

Há coisas com que não nos conseguimos identificar

mas que não deixam de fazer todo o sentido.


«Why do you cut yourself, Lee?»
«I don't know.»
«Is it that sometimes the pain inside has to come to the surface, and when you see evidence of the pain inside you finally know you're really here? Then, when you watch the wound heal, it's comforting... isn't it?»
(Secretary, Steven Shainberg, 2002)

quinta-feira, novembro 11, 2004

Palestine Lost

Para tentar perceber as múltiplas dimensões do conflito israelo-palestiniano, neste caso particular os problemas na Palestina. Ainda antes da morte de Arafat, mas pertinente e actual.
James Bennet on The Future of a People Adrift, jornalismo multimédia do The New York Times - excelente.

Estava a ver que não...

Frase usada para aceder a este site, no motor de busca do MSN Search:
"mulheres que gostem de grandes cassetes".

Decididamente não um best of...

... mas uma espécie de «Aqueles que me deram algum gozo escrever». Em snippets.

Dos arquivos do Bluogh:

O post muito mentiroso:
«Já há muito tempo que importantes testemunhas são silenciadas no caso Casa Pia. Quem matou Carlos Paião e fez tudo parecer um acidente? E o António Variações? Doença? É demasiado óbvio. E porque é que o Pinto da Costa diz que não gosta de mouros, mas anda aos abraços a um Mourinho? A jornalista Felícia Cabrita foi vista a comer um pastel de nata da pastelaria de um primo do juiz Rui Teixeira, e não consta que tenha posto canela. O próprio Rui Teixeira resistiu ainda durante uns dias a ter de começar a usar gasolina Super com aditivos. Por que é que será que ninguém fala nisto?»

Alexandra Solnado:
«O que será mais preocupante:
1. A Alexandra Solnado eventualmente estar a mentir e a inventar que fala com Jesus Cristo, com o objectivo de fazer uns trocos à custa de pessoas espiritualmente carentes.
2. A Alexandra Solnado ouvir mesmo uma voz que lhe chama "cabrita" e se identifica como Jesus Cristo.
3. A Alexandra Solnado ter-se tornado numa comediante com mais sucesso do que o pai. »

Um sonho:
«No meio da sala José Castelo Branco tenta vender um colar de pérolas a Andy Warhol, Hemingway aparece e dá-lhes uma grande tareia. A um canto José Figueiras canta à tirolesa e faz amor com Gilberto Madaíl enquanto José Saramago, vestido com o fato Nobel, observa-os e tira notas. Pela porta entram Woody Allen e os Excesso. Allen tem um ataque de pânico e desmaia enquanto os Excesso tentam resolver uma equação de segundo grau. Enganam-se numa vírgula e a sala explode. Toda a vida na terra agoniza lentamente e desaparece. O mundo acaba. José Figueiras continua a cantar à tirolesa.»

A sobrelotação dos transportes públicos em Tóquio:
«Veja-se o caso de Shenatsu Zitaini, vítima de um ataque cardíaco no dia 20 de Dezembro do ano passado (comprovado mais tarde pelas autoridades médicas), e que só foi encontrado há três dias numa estação de metro localizada a 32 km do local de falecimento. Os peritos afirmam que Zitaini esteve em sete centros comerciais, percorreu as grandes avenidas da capital, passou por 10 estações do metropolitano e apanhou 3 comboios suburbanos. Foi descoberto pelos fiscais de bilhetes do metro, após ter-se recusado a mostrar o passe.»

O Bloco de Esquerda:
«Tenho reparado nuns cartazes do Bloco de Esquerda que dizem: "ABORTO: ASSINA PELO REFERENDO". Isto de fazer campanhas por referendos parece-me respeitável, mas agora insultar as pessoas é que não!»

A burocracia em Portugal:
«Ou então poderia acontecer que andassem aí uns malandros que quisessem certificados de freguesia em nome de outrém, ou pior!, um cartão de eleitor que nunca poderão usar! Sim, porque existe gente pérfida por aí. Gente que vai às livrarias e arranca as últimas páginas dos livros para que mais ninguém possa dizer que leu um livro até ao fim. Gente que subtilmente esfrega os genitais nos expositores de fruta dos supermercados - mesmo com roupa convenhamos que é uma grande nojeira. Gente que escreve convenhamos e genitais na mesma frase.Há pessoas para tudo meus amigos. »

O detuning:
«Quando surgiu o tuning, Carlos Alcindo não ficou impressionado: "já com 10 anos apetrechava o carro dos meus pais e de todos o meus familiares. Eu sou o responsável pela introdução do acessório no espelho retrovisor, o que naqueles tempos não tinha de ser necessariamente um crucifixo", acrescenta, "de facto, por sugestão minha, muitas vezes usávamos um coração de boi, que dava um efeito muito bonito quando o carro caía num buraco." Consequentemente revela "que o tuning para mim já não tinha nada para oferecer, era uma ciência acabada. Era tempo de partir em frente".»

E, claro, as memórias de Ivgeny Ivgeny:
«O mais estranho é que acordo sempre com dores, e quase que juro que ao espelho se vislumbram pequenas marcas de dentes na minha nádega esquerda. Já indaguei Leopold, meu companheiro de quarto, sobre tão bizarras ocorrências, mas o Estrume de Iaque (como carinhosamente gosto de lhe chamar) disse que nunca me morderia a nádega esquerda, a direita talvez, mas só em noites de retrete minguante. O Estrume de Iaque é um tipo estranho porque toda a gente sabe que em noites de retrete minguante a tendência é para dançar nu dentro de uma bacia cheia de esparregado. »

Parabéns atrasados

Há dois dias atrás - num português 9/11 - o BLUOGH assinalaria um ano, não de vida, mas de início de existência. Com ela as minhas aventuras na blogosfera. Não tem sido um ano de blogging particularmente glamouroso, mas tem tido os seus momentos. A ideia principal, por detrás destas palhaçadas todas, é obrigar-me a escrever. A isto acresce o facto de ter uma audiência (ainda que reduzida), o que leva a ter um certo cuidado - mas não muito - com aquilo que se escreve. Assim, é preferível ter sempre questão em que, tanto a nível formal e de conteúdo, os textos sejam sempre de carácter duvidoso.

A experiência BLUOGH foi interessante a vários níveis. Um desafio para um seguidor atento das expressões do humor em geral e, em particular, da escrita humorística, fã de Woody Allen e Robert Rankin (entre muitos outros); saltar para o outro lado do comédia, que não contempla a ocasional piadola no grupo de amigos, que é o da produção. Não é fácil, já que os níveis de exigência são altos, e o compromisso é sempre angustiante. Mais do que encontrar the voice, como dizem os escritores ingleses, foi um campo de experimentação e ensaio. Importante, muito importante, foi estar bem acompanhado - numa espécie de comunidade não-mainstream de humor na blogosfera - por este, este, e, sobretudo, este. Fontes de inspiração, crítica, ou simplesmente galvanizadores do género «olha-me este cabrão, isto é mesmo engraçado; vou tentar fazer melhor».

Assim, findas as esperanças do reconhecimento pelos grandes punheteiros da blogosfera, e a aclamação como jovem promessa da comédia mundial, este jovem masturbador não teve outra solução: começar outro blog, de carácter mais geral, onde se escreve sobre tudo, mas mantendo sempre a pouca substância e as ocasionais tentativas de humor. Ah, e claro, o tradicional self-put-down também cai sempre bem.

Um ano depois também importa agradecer às pessoas que ainda se dão ao trabalho de vir ler estas coisas. Aqueles que vêm rir com os textos, dos textos, ou com as gralhas/erros do português, são sempre bem-vindos. Nunca diria, como alguns, que este blog é vosso, porque não é. Mas é importante que por aqui vão passando. Até o dia em que vos mande embora. Aí não apareçam s.f.f., porque podem ver alguma coisa que não gostem.*

*Nota - Nesta frase final o autor refere-se à futura possibilidade de venda deste espaço cibernético a um site dedicado a unshaved women who like to fuck midgets and drink licor beirão.


terça-feira, novembro 09, 2004

Com licença

Vou ali ao Porto e já venho.

Roma V - O espírito E. em Aguarela

Aguarela sobre Corel Photo licenciado para Nuno M.
Colecção da Privada



#1 O Eixo Franco-Espanhol corteja Portugal


#2 Os amantes e os dentes do outro


#3 Alemanha cercada

Antes de qualquer coisa


Before Sunrise apareceu por volta de 1995. Acho que o vi em 96 ou 97. Um puto que tentava ansiosamente perceber onde é que entrava o amor, a paixão, a poesia, no meio de tanto Bauhaus, Bar dos Trezentos, Alcântara-Mar e Bairro Alto (ainda em versão alternativa). Quando as raparigas e os rapazes passavam a maior parte da noite em grupos separados, até que, invariavelmente, dois espécimes se juntavam numa espécie de absorção das entranhas da alma no meio da pista de dança. O resultado acabava por ser um de dois possíveis: alguém começava a choramingar embriagadamente (uma amiga, ou amigo, «traído»; um dos amantes arrependidos), ou alguém tinha de ir vomitar.

Before Sunrise era um daqueles sinais, assim como - imagine-se! - as Folhas Caídas, de que podia haver algo para além daquilo tudo. Que tinha de haver. Promessas de promessas de viagens por terras distantes, e o amor espontâneo, sem defesas, sem joguinhos, sem fronteiras. Sinceramente, nem me lembro assim tão bem do filme. Só que era bonito, bonito daquela maneira que não se consegue dizer bonito sem parecer um sentimentalóide. É bom gostar de coisas bonitas.
Claro que, um ano depois, quando fiz o inter-rail também fiquei à espera de conhecer uma francesa, por quem me apaixonaria loucamente, a quem dedicaria sonetos adolescentes e manhosos, e, eventualmente, esqueceria à terceira carta. Acabei por não ter muita sorte. Nessa célebre viagem de 1997 (15 cidades em 30 dias), as únicas mulheres com quem tive conversas por mais de cinco minutos – à excepção, obviamente, das minhas companheiras de viagem – foram duas islandesas cujo cabelo não devia ver água há mais de uma semana (parecia a cabeleira de um boneco Nenuco); e uma drogada berlinense gorda, que andava com uma malinha de médico e um namorado que insistia em tentar saltar pela janela de um comboio que viajava a 100km/h. A parte das festinhas que ela me fez na cara deve ter sido o ponto alto da noite.

Agora aparece Before Sunset. Ethan Hawke e Julie Delpy estão mais velhos, ele casado, escritor best-seller, ela activista bipolar e compositora de valsas para guitarra nas horas livres. A crítica diz, e diz bem, que estão mais cínicos, desiludidos com o amor, a vida, e com o primeiro encontro prometido mas falhado.
Eu também estou mais velho, e a crítica diz, não sei se muito bem, que sou um tipo cínico (o significado deste «cínico» é mesmo o grego, da escola de pensamento cínico - que acabou quando nenhum dos professores apareceu no segundo dia, por não acreditar realmente na importância do ensino - estamos entendidos?), mas ainda não estou desiludido nem com o amor nem com a vida, talvez um bocado com o Sporting.

Claro que a questão aqui é, mais uma vez, a seguinte: a falta de coerência dos meus textos sempre que tento escrever sobre um filme (ver o post sobre A Vida é um Milagre, ou talvez não).

Há uma parte do filme em que o Jesse (Ethan Hawke) diz qualquer coisa do género: há uma ideia que temos, quando somos mais novos, que iremos sempre conhecer pessoas, que aquele amor verdadeiro ainda vai aparecer, o que, muitas vezes, não acontece. É uma ideia perturbadora. Mas, mais tarde, felizmente, ele contradiz-se de forma magnífica, e, nessa altura, apetece dizer: «Jesse my man, you are full of shit!» E é essa humanidade, essa falibilidade e pouca coerência humana, que fortalece o realismo destes dois filmes. É em coisas destas que a expressão «câmara intrusa» ganha mesmo força. Há poucos pares românticos do cinema que parecem tão carne e osso como estes dois, nas suas contradições, nas conversas, na química, no conforto com que gravitam à volta um do outro. São filmes que, mesmo rodados em cidades lindíssimas, essas não deixam de ser tão espectadoras como nós. São os diálogos que carregam as personagens, a história, que puxam consigo a câmara e, incondicionalmente, o espectador. O filme é conversa. E as frases que eles trocam, ao mesmo tempo que são só deles, são também de todos nós. Há um bocado neste filme que todos podem aproveitar. Seja uma conversa, uma sensação, uma cumplicidade ou uma vontade, ou mesmo aqueles sonhos que projectamos à noite para fora das minúsculas paredes dos nossos quartos.

domingo, novembro 07, 2004

Sinais de Envelhecimento

- Dar um jeito nas costas e ficar meia hora sem me conseguir mexer

- Começar a dar outro valor à expressão «miúdas de 16 anos»

- Ter um contracto

- Sérias dificuldades em flirtar pelo messenger sem me sentir um case study, ou, em inglês - estudo de caso

- Invocar o argumento do «património da língua» a pessoas que escrevem mensagens com coisas como «keres» ou «pk?»

- Irritar-me com a imperial do mais recente bar da moda do Bairro Alto, que vem num copo de plástico com as letras «LUSO» e custa dois euros

- Ter amigos radiantes de felicidade pelo nascimento do filho lindo (Parabéns N. e C.)

How to Dismantle an Atomic Bomb

Já está na net já está na net.

Beware of the false files.

E a fotografia da capa foi tirada no Lux. Ah, pois é.

Brevemente, considerações subjectivas e inúteis, mas muito entusiastas, sobre as novas músicas.

Miracle Drug

I want to trip inside your head
Spend the day there
To hear the things you haven't said
And see what you might see

I want to hear you when you call
Do you feel anything at all?
I want to see your thoughts take shape
And walk right out

I am you and you are mine
Love makes no sense of space
And time will disappear
Love and logic keep us clear

The songs are in your eyes
I see them when you smile
I've had enough of romantic love
I'd give it up, yeah, I'd give it up
For a miracle,
a miracle drug
a miracle drug
(U2, How to Dismantle an Atomic Bomb - 2004)

sexta-feira, novembro 05, 2004

Ah ok, isso é tudo muito engraçado, mas

Existe uma grande diferença entre gostar de um conceito e gostar de uma atitude.

It's all about the attitude.

quinta-feira, novembro 04, 2004

E algumas horas antes...

Show me show me show me / How you do that trick




Só existe um gajo que se pode safar com coisas destas

«How did you find me?»
«I'm the man».

Cabrão do Tarantino...

A piada má é sempre inevitável (ou será ao contrário)

-Sim, é verdade, o Mister Gay casou!
-Ai sim? Com quem, o Mister Faggot?

A ressaca

«Tonight we are having a US election party».

Na noite/madrugada das eleições, já não me lembro em que canal, um «especialista» afiançava a hipótese de Bush fazer um segundo mandato menos agressivo, confirmando-se que os EUA são um país fracturado. Meu caro amigo especialista: Bush volta num segundo mandato, não poderá concorrer a um terceiro, arrebatou (pelo menos desta vez) a maioria dos votos populares; Bush viu a sua forma de fazer política legitimada pelo povo americano. Se juntarmos a isso a perigosa onda crescente, de um tipo de cristianismo messânico que ainda não consigo perceber muito bem, na Casa Branca americana, continuamos com razão para estar preocupados.

Sobre os resultados e implicações políticas já tem sido tudo dito, analisado e repescado, por essa imprensa e blogosfera fora. Mas há coisas que me incomodam, e não têm nada a ver com o facto dos EUA poderem a vir atrasar a retoma mundial, ou a China continuar a comprar défice americano a retalho. Incomoda-me a direita cretina, para utilizar a expressão de um vecchio amico, que olha para a política como se de um desporto se tratasse. A direita cretina não sabe construir um argumento com Armas de Destruição Maciça e Inexistência de Provas na mesma frase. A direita cretina acredita piamente em qualquer ideologia que use a palavra «conservador». Essa que festeja a vitória de Bush como se fosse sua. Que força uma qualquer afinidade com o pensamento de um homem que vê o mundo através de uma América profunda, muitas vezes escondida sobre as imagens feitas que todos temos dos Estados Unidos, e, sobretudo, muito pouco conhecida.

Existe também a esquerda cretina. Essa esquerda que teimou em subestimar George W. Bush durante estes quatro anos, que escolheu caricaturizar o presidente norte-americano, em vez de o levar a sério. E o que se passa na Casa Branca com George Bush tem de ser levado muito a sério. A esquerda que gosta de encher a boca e proclamar que «os americanos são todos estúpidos». Essa esquerda que, lá no fundo, está reconfortada por continuar a ter alguém em quem culpar tudo o que correr mal nos próximos quatro anos. Até o declínio do F.C. Porto.

terça-feira, novembro 02, 2004

Gosto

Quando as mulheres são um livro aberto.
Em chinês.

segunda-feira, novembro 01, 2004

Pergunta de Agibeira ou O Verdadeiro Problema

- E, já agora, sabes qual foi o verdadeiro problema do Estado Novo?
- Era ser o Estado Novo.

Apologia da Monarquia

E olha, pá, sabes quando é que começaram os problemas deste país? Foi quando mataram o rei, pá, veio por aí uma grande bandalheira, pá. Vieram para aí os Republicanos, pá, destruíram e partiram o país todo. Levaram-nos para a anarquia, destruiram as infra-estruturas, pá, chegámos a ter um governo que durou meia-hora. Depois, pá, foram esses bandalhos que nos levaram para a ditadura. O povo queria ordem, e já não havia rei.

Pois, pá, isso é tudo verdade, mas agora não precisamos de mais bandalheira, deixa lá o rei onde está, pá. E viva o Afonso Costa, pá!

As pessoas que odeiam o Mário Soares

a) tinham umas «terrinhas» por esse país fora
b) viviam a boa vida do ultramar, onde era tudo numa boa e os pretos iam à escola
c) não gostam de gordos

Antropologia de alto nível

- Ma rôbado motorê dji barcô.
- rôbado motorê dji barcô, há?
- si, rôbado motorê dji barcô.
- ah, motorê dji barco à robado, há?
- à robâdo motorê dji barcô, é.
- À...

Oscar Night

Ah, mas a noite dos óscares foi tão bonita. Já não via tanta gente feliz desde que o Miguel Sousa Tavares prometeu sorrir duas vezes por ano. Os engenheiros podem não saber dançar, mas quem esquecerá aqueles momentos de dourada felicidade, ou, em Haiku:

Ensaiam a Kizomba,
o Danúbio Azul ribomba
pelos altifalantes Bose

E agora?

Agora é esperar, esperar para saber, há sempre coisas para saber. Agora, vinculado por um contracto, um contracto!, que sensação estranha é estar vinculado, amarrado, ser um outorgante - em certas culturas ser outorgante é tem um estigma de má fortuna, e ninguém nos convida para festas e matanças do primogénito.
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