quinta-feira, dezembro 29, 2005

Aviso (actualizado*)

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aos estimados frequentadores aqui do boteco que até 2006 não se escreverá muito por aqui. Balanços findanuais, melhores e piores, fio dental a descer e gmail a subir; comics das presidenciais, e outros escritos inúteis, daqui a mais ou menos uma semana. Um abraço (meio sacana) do Rio de Janeiro e um bom ano de 2006 para os três.

(*a foto foi alterada posteriormente para aumentar o grau de sacanice do post)

sábado, dezembro 24, 2005

Presente de Natal

Tendo em conta a média de visitantes deste blogue, e se descontarmos aqueles que vêm aqui parar por acaso (carregar em next blog» começa a ser uma das principais causas de taquicardia no hemisfério norte) ou através da busca por fotos do Alexandre Frota - sempre em voga na altura das festas -, chego à conclusão de que os três visitantes regulares do Achtung Baby deverão certamente apreciar* os hilariantes podcasts do genial Ricky Gervais, com o brilhante Stephen Merchant, e o either he is a comic genious or just retarded (como disse uma amiga minha) Karl Pilkington.

Bom Natal! (carregar na imagem para seguir o link)


*não? então podem-se sempre divertir a explorar o ampland, paciência, eu tentei.

Every night a DJ saves my life

Why do I fall in love with every woman I see who shows me the least bit of attention?
(Eternal Sunshine of the Spotless Mind)

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Inverno (update musical)

Jens Lekman com The Cold Swedish Winter, do álbum When I Said I Wanted To Be Your Dog. Na Suécia põem-no nas tabelas Pop, mas há quem fale em Indie Pop, e quem classifique como Indie Folk. Chamem-lhe o que quiserem, eu acho que é muito bom - e bonito. Não é qualquer música que aguenta a adjectivação «bonita», sobretudo uma com a palavra gonorrhea na letra.

Se, lá para as alturas da Primavera, as pessoas começam a dizer que o «amor começa a estar no ar», o que é suposto passar-se no Inverno? Não faço a mínima ideia, mas deve ser qualquer coisa parecida com o que diz a canção.

The cold Swedish winter
is right outside
and I just want somebody
to hold me through the night

(Jens Lekman, The Cold Swedish Winter)

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Votos (com música)

Para todos aqueles que vivem o Natal de uma das seguintes maneiras: a celebração pelo nascimento de Jesus Cristo, o resquício socio-antropológico de antigas festas pagãs, uma ocasião para comemorar a família e promover o amor entre as pessoas, a oportunidade de aumentar o comércio e manter a máquina capitalista a funcionar, um ordenado extra ao fim do mês, uma altura do ano propensa à depressão devido à pressão da alegria festiva; para todos esses e mais alguns, a todos um:

(Trey Parker / Matt Stone - South Park)

Merry Fucking Christmas!

I heard there is no Christmas
In the silly Middle East
No trees, no snow, no Santa Claus
They have different religious beliefs

They believe in Muhammad
And not in our holiday
And so every December
I go to the Middle East and say...

"Hey there Mr. Muslim
Merry fucking Christmas
Put down that book the Koran
And hear some holiday wishes.

In case you haven't noticed
It's Jesus's birthday.
So get off your heathen Muslim ass
and fucking celebrate.

There is no holiday season in India I've heard
They don't hang up their stockings
And that is just absurd!

They've never read a Christmas story.
They don't know what Rudolph is about
And that is why in December
I'll go to India and shout...

Hey there Mr. Hinduist
Merry fucking Christmas
Drink eggnog and eat some beef
And pass it to the missus.

In case you haven't noticed
It's Jesus's birthday
So get off your heathen Hindu ass
and fucking celebrate!

Now I heard that in Japan
Everyone just lives in sin
They pray to several gods
And put needles in their skin.

On December 25th
All they do is eat a cake
And that is why I go to Japan
And walk around and say...

Hey there Mr. Shintoist
Merry fucking Christmas
God is going to kick your ass
You infidelic pagan scum.

In case you haven't noticed
There's festive things to do
So lets all rejoice for Jesus
And Merry fucking Christmas to you.

On Christmas day I travel `round the world and say,
Taoists, Krishnas, Buddhists, and all you atheists too,
Merry Fucking Christmas, To You!

Já não havia paciência para a negritude de angústia adolescente do antigo template

E mesmo com manifestas deficiências no que diz respeito à manipulação de conceitos obscuros do Photoshop, como layers e vectors, e com alguma dose de frustração de tentar adaptar o funcionamento do Frontpage aos templates pré-definidos do Blogger, acho que não ficou nada mal.

Let there be light, indeed.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Sobre Deus, a Ideia Divina, e a falta de pensamento (resposta a um e-mail de um leitor)

Ainda o leitor devidamente identificado, e agora sobre o post E os macacos terão seratonina, escreve:

«me parecer que levanta uma questão interessante, que acabará porventura por encontrar resposta nas duas hipóteses. Estaremos com toda a certeza 'programados', e não sei se o termo é o melhor, e obviamente que somos induzidos. A questão da 'ideia divina' carece de um objecto para se consubstanciar numa Fé concreta por uma figura de Deus… Ainda que seja a do Deus Rá!...

Assim acho que o artigo que publica no blog acaba por ser menos sólido do ponto de vista da reflexão, mas simplesmente porque denota falta de 'pensamento'. Só num óvulo receptivo é que o espermatozóide pode dar em algo mais… não é?? Então, da mesma forma, só porque a criatura humana é receptiva, ou se preferir está programada na sua memória genética para a ideia divina, é que se sente 'empurrada' para escolher um Deus no qual possa melhor consubstanciar a sua ideia de divino… »

Existe aqui um certo equívoco em relação ao que se escreveu no post, ou o que se pretendia ter escrito, admito que por factores internos deste espaço as ideias possam não ter ficado claras.

O texto não pretende levantar um linha divisória, ou excluir uma das hipóteses em detrimento da outra. O raciocínio apresentado pelo autor do e-mail é lógico e até foi um dos aspectos em que o tal artigo da NM pecou por falta de desenvolvimento.

Quando eu falei numa «grande diferença entre estar programado para acreditar nalguma coisa, ou ser induzido a acreditar nela», era exactamente porque senti que havia uma deficiência no texto da revista em fazer a tal distinção entre Ideia Divina e Deus, levantando a possibilidade de alguém chegar ao fim do artigo e achar que o ser humano está programado a acreditar especificamente em Alá, Jeová ou Rá.

Aliás, a razão que me levou a escrever o texto foi ter sentido que o artigo não era totalmente fiel para com as questões que envolvem a ciência e a religião, sobretudo no campo da biologia ou genética, não tanto pela teoria que apresenta (que nunca me passaria pela cabeça rejeitar) mas sim pela falta de contextualização e toda a informação omissa. Ainda que o tenha feito com as evidentes lacunas de quem não é cientista.

É até, se preferirmos, um conjunto meio solto de parágrafos e reflexões, sobre dois assuntos que me interessam especialmente, ciência e religião, que pela importância que assumem na nossa civilização merecem certos cuidados especiais. Como não falar em «neuroteologia» como uma disciplica científica, não referir outras estudos sobre o mesmo assunto, e imprimir frases como «o homem está programado para acreditar em Deus», etc. Mesmo que a frase fosse, como defendem alguns cientistas: «a espécie humana programou-se, ao longo da evolução da Humanidade, para acreditar numa Ideia Divina», não estaríamos nem perto de uma ideia consensual à luz da ciência do séc. XXI.

Talvez seja mais fácil se responder directamente a outro excerto do e-mail, quando diz:

«Não se discute a ideia de Deus, deve ou pode discutir-se a existência de Deus, e creio que para o fazer, eventualmente do lado da ciência, como do lado da religião, a objectividade falha… »

Aqui é que eu e o meu correspondente discordamos completamente. A ideia de Deus discute-se, e deve ser discutida. Dessa discussão, dessa reflexão, encontramos respostas (e perguntas) muito mais relevantes sobre o nosso papel como seres humanos, do que discutindo a existência de Deus.

O porquê da presença de uma Ideia Divina ao longo de milhares de anos da história da nossa espécie, tentar perceber se existem razões biológicas, evolucionárias, genéticas, culturais, para essa presença; saber porque certas civilizações preferiram certo tipo de crenças em detrimento de outras e como isso influenciou o desenvolvimento dos povos, a razão do monoteísmo ter começado a dar os primeiros passos no Médio Oriente, etc., entre várias outras.

A existência de Deus, obviamente, também pode ser discutida, embora me pareça que seja uma questão que quando não está fortemente associada a uma educação (ou cultura), decorre de um entendimento existencial, que por sua vez está limitado às ferramentas (intelectuais ou emocionais) que possuimos para o fazer. Sem falar na tal questão da «perda da objectividade», que pode levar a trocas de ideias acaloradas, ou até bonitas, mas que se transforma facilmente em retórica estéril (em qualquer dos lados).

No meu caso, e porque me parece ser relevante sair do armário, diria que sou agnóstico se me confrontarem com a ideia de um ser superior, e um ateu borderline no que diz respeito a qualquer religião institucionalizada. Já há alguns anos que me deixei de entregar com o fervor dos tempos adolescentes a discussões sobre a existência de Deus, já que não chegam nunca a conclusões e acaba-se sempre no plano da Fé e no «eu sinto, tu não, mas somos todos amigos». No entanto, por exemplo, não partilho a teoria do grande Richard Dawkins, para quem a religião é um erro evolucionário que só traz prejuízos ao nosso desenvolvimento como espécie; e respeito, até certo ponto, as crenças dos outros.

Mas, ou por falta de pensamento ou de uma linha editorial pouco coerente (também poderá ser sono), não me está a apetecer falar por aí do papel desempenhado pela Igreja na esfera social, de dogmas, misticismos e superstições, e moralidades religiosas. Fica para outro dia.

Sobre este blogue (resposta a um e-mail de um leitor)

Coisa rara por estes lados, chega um e-mail à caixa do correio de um leitor casual (é raro chegarem e-mails, não leitores casuais que, desconfio, são a maioria), levantando algumas questões interessantes sobre o post aí em baixo - aquele da Ideia Divina, seratonina e moléculas religiosas - e a própria natureza do blogue.

Espero não estar a entrar em qualquer tipo de descortesia, ou brecha de bloguetiqueta reproduzindo alguns trechos da missiva electrónica, que me parecem relevantes para discutir aqui, já que o remetente (identificado) ainda que crítico e discordante, pautou-se por grande correcção.

Sobre o blogue, escreveu que «me pareceu interessante do ponto de vista dos conteúdos, mas menos 'consolidado' do ponto de vista de linha editorial».

O blogue não tem, de facto, uma linha editorial. Poder-se-à, talvez, falar em várias linhas, sejam intersecções, paralelas, tangentes, perpendiculares, enfim, alguns falariam em espuma dos dias, mas já não há paciência para essa expressão. Em bom português será algo como: escrevo o que me dá na mona.

Não há um target, não procura mercados novos, velhos ou segmentados. Não entra em desvario de lincagem, deslincagem, comentários alheios, etc, porque não foi para isso que foi feito. Por vezes será humorístico (ou tenta), introspectivo, diarístico, repositário de outros, ensaístico, político, musical, na maior parte das vezes não será nada de especial, mas segue sempre uma agenda pessoal - que acontece - não é estabelecida.

É um blogue consciente da sua audiência (ainda que reduzida), como o são todos, e que abraça a sua exposição; porque são essas duas componentes que alicerçam (mas não limitam) a sua razão teleológica: obrigar a escrever, assinalar o relevante e o irrelevante no quotidiano subjectivo e, ocasionalmente, usando uma expressão que li uma vez num blogue qualquer - «ensaiar a gravitas».

domingo, dezembro 18, 2005

# 7

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You know I don't see you when she walks in the room.

sábado, dezembro 17, 2005

"Don't fuck with Chuck!"

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Muito, muito bom. Retirado daqui:

Facts about Chuck Norris

If you look in a mirror and say "Chuck Norris" three times, he will appear and kill your entire family... but at least you get to see Chuck Norris.

Chuck Norris does not sleep. He waits.

If you can see Chuck Norris, he can see you. If you can't see Chuck Norris you may be only seconds away from death.

Chuck Norris built a time machine and went back in time to stop the JFK assassination. As Oswald shot, Chuck met all three bullets with his beard, deflecting them. JFK's head exploded out of sheer amazement.

When the Boogeyman goes to sleep every night he checks his closet for Chuck Norris.

A Handicap parking sign does not signify that this spot is for handicapped people. It is actually in fact a warning, that the spot belongs to Chuck Norris and that you will be handicapped if you park there.

When Chuck Norris sends in his taxes, he sends blank forms and includes only a picture of himself, crouched and ready to attack. Chuck Norris has not had to pay taxes ever.

Chuck Norris's girlfriend once asked him how much wood a woodchuck could chuck if a woodchuck could chuck wood. He then shouted, "HOW DARE YOU RHYME IN THE PRESENCE OF CHUCK NORRIS!" and ripped out her throat. Holding his girlfriend's bloody throat in his hand he bellowed, "Don't fuck with Chuck!" Two years and five months later he realized the irony of this statement and laughed so hard that anyone within a hundred mile radius of the blast went deaf.

If you ask Chuck Norris what time it is, he always says, "Two seconds till." After you ask, "Two seconds to what?" he roundhouse kicks you in the face.

Chuck Norris is not hung like a horse... horses are hung like Chuck Norris

Chuck Norris sold his soul to the devil for his rugged good looks and unparalleled martial arts ability. Shortly after the transaction was finalized, Chuck roundhouse kicked the devil in the face and took his soul back. The devil, who appreciates irony, couldn't stay mad and admitted he should have seen it coming. They now play poker every second Wednesday of the month.

A blind man once stepped on Chuck Norris' shoe. Chuck replied, "Don't you know who I am? I'm Chuck Norris!" The mere mention of his name cured this man blindness. Sadly the first, last, and only thing this man ever saw, was a fatal roundhouse delivered by Chuck Norris.

(http://www.4q.cc/chuck/index.php?topthirty)

quarta-feira, dezembro 14, 2005

E os macacos terão seratonina?

A Notícias Magazine (DN) de Domingo passado publicou um artigo de Nicolas Revory, traduzido do original que saiu na Science & Vie - Porque Deus nunca desaparecerá (Pourquoi Dieu ne disparatîtra jamais).

O texto de abertura da reportagem arranca com a frase: «o homem está programado para acreditar em Deus, devido à própria estrutura do cérebro humano e, sobretudo, a uma pequena molécula cujo papel crucial acaba de ser identificado».

Lendo o artigo tem-se a sensação (porque o texto não dá para mais) de que não é tanto em Deus que o homem está programado para acreditar, mas sim naquilo a que alguns teóricos chamam de «Ideia Divina». Isto é importante porque a Ideia Divina tanto pode ser Alá, o gajo japonês do gás Sarin no metro de Tóquio , ou a Linda Reis. O texto aborda esta questão numa frase, e não de forma clara, e depois segue alegremente insistindo na palavra Deus. E, parece-me, há uma grande diferença entre estar programado para acreditar nalguma coisa, ou ser induzido a acreditar nela - onde entram factores que estão fora do alcance de um biólogo ou neurologista.

Já a questão da molécula é interessante. Responsável por uma substância que se associa ao extâse religioso, também conhecido como o Divino Orgasmo descrito por Santa Teresa de Ávila, no séc. XVI (um texto intenso, que viria inspirar Bernini a fazer a magnífica escultura da fotografia ali em baixo), explica-se que a substância - seratonina - tem efeitos muito semelhantes aos induzidos por drogas como o LSD ou os «cogumelos mágicos». (No entanto, antes deste estudo, cientistas já tinham avançado a ligação de substâncias semelhantes, como a dopamina, às sensações da religiosidade).

Essa ligação entre os efeitos das drogas halucinogéneas e religião foi descoberto após intenso trabalho dos chamados «neuroteólogos», abrindo dessa forma caminho à possibilidade de inúmeras piadas óbvias, que me vou abster de fazer. (Existem, no entanto, estudos muito interessantes sobre o paralelismo entre o sexo e o sentimento religioso, tanto no aspecto biológico como nos simbolismos dos rituais das demais religiões do mundo.)

A própria controvérsia que envolve a «cientificidade» da disciplina que alguém, que não terá lido Feynman, resolveu chamar de «neuroteologia» não é em lado nenhum referida no texto mas, enfim, temos de começar a aceitar que vivemos num mundo em que já são poucos os que partem para a violência física quando alguém diz que a astrologia é uma ciência.

Que a religiosidade provoca transes, sensações de extâse, plenitude, cosmicidade, vontade de dançar aeróbica divina com o padre Rossi, etc, é um dado milenar que se adquire pelo contacto com os milhões de crentes em todo o mundo. Quando eu ainda perdia mais de dez minutos a discutir a existência de Deus, invariavelmente aparecia a frase fatal: «mas eu sinto o amor de Deus, e tu nunca saberás o que é isso, verme, sobretudo quando estiveres a fagulhar nas chamas do inferno».

Claro que as causas para esse «arrebatamento» podem ir desde um crucifixo colocado num altar, músicas de igreja tocadas em violas com transpositores, ou cantar para um bovino colocado em cima de um pedestal. Diria até que outros tipos de experiência, não religiosas mas, se quiserem, espirituais, também podem levar até ao mesmo estado.

Mesmo se pusermos a hipótese de que a tendência para a religiosidade faz parte de um processo evolucionário, com implicações nos nossos genes, não temos ainda formas conclusivas de o saber; embora seja divertida (especialmente lendo Richard Dawkins) a discussão sobre se seria uma incorporação positiva ou negativa - um erro evolucionário .

O papel da Ciência não é procurar ou desmascarar Deus, mas sim uma busca pelos mistérios do Universo, da nossa existência (onde podem entrar questões da religiosidade). A atitude científica em relação ao dogma deverá ser sempre a do desprezo. E mesmo em face de grandes avanços, retrocessos, ou novas questões que vão sendo levantadas, a presença da Ideia Divina na existência humana parece querer afirmar-se perene e duradoura. E assim será provavelmente durante muito tempo, sobretudo porque a religião tem na Ciência o adversário leal que ela nunca foi.

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segunda-feira, dezembro 12, 2005

Gostaria de não ter tido de usar macacos para falar sobre este assunto

A boa-educação é importante. Um conceito subjectivo, é verdade, mas nunca vi ninguém mal-educado dizer que alguém é bem-educado e, no entanto, já vi gente desonesta a reconhecer a honestidade no próximo. Também é verdade que boa-educação compreende bem mais do que meras regras de conduta, como ter maneiras à mesa ou não cuspir na rua. De igual modo pode abranger menos do que pregam certas estreitezas mentais, que acham que toda a interacção social cai em regras fixas de um qualquer protocolo obscuro.

Naturalmente que a boa(ou má)-educação não determina o carácter de uma pessoa. Não faltam por aí cretinos ou mentecaptas bem-educados, e é bom não esquecer que comportar-se bem à mesa, ou olhar nos olhos de alguém a quem se aperta a mão, não é algo difícil de aprender: até um macaco - literalmente - pode ser ensinado a fazê-lo. Outras faculdades mais importantes não têm essa facilidade de assimilação.

Mas se J. passa, por duas vezes na mesma noite, a faca de cozinha a C. com a lâmina apontada na direcção da namorada, e insiste em partilhar com a mesa os momentos iniciais do seu processo digestivo, não consigo deixar de notar que J. é um selvagem. Ao mesmo tempo que também reparo que me torno no tipo de pessoa que começa a reparar nessas coisas. E isso é quase tão desconfortável como o comportamento de J. Quase.

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«É um bocado mal-educado, mas é óptimo profissional e excelente pessoa».

sábado, dezembro 10, 2005

Como é que se concretiza um novo movimento musical, compõe um clássico, e justifica a permanência de um ser humano durante quatro horas no WC

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«Mas algo lhe despertou uma centelha porque, de repente, ele [João Gilberto] passou a tocar violão dia e noite, encerrado no quarto, como se tomado por uma obsessão. No princípio, nada que tocava fazia muito sentido: o mesmo acorde era repetido um zilhão de vezes, em duplicatas quase perfeitas, exceto quando ele lhes acrescentava a sua voz.

Descobriu que a acústica do banheiro era ideal para ouvir a si próprio e ao violão. Todos aqueles ladrilhos e azulejos, infiltrados há anos de umidade e vapor, formavam uma espécie de câmara de eco - as cordas reberveravam e ele podia medir sua intensidade. Se cantasse mais baixo, sem vibrato, poderia adiantar-se ou atrasar-se à vontade, criando o seu próprio tempo.»

«Tom [Jobim] anteviu de saída as possibilidades da batida, que simplificava o ritmo do samba e deixava muito espaço para as harmonias ultramodernas que ele próprio estava inventando.»

«"Que coisa mais boba, rimar peixinhos com beijinhos", comentou Lila.
Mas Vinicius não devia estar para muita conversa e rebateu:
"Ora, deixe de ser sofisticada."
Anos depois, Vinícius diria que uma das maiores surras que uma letra lhe aplicara tinha sido a de "Chega de Saudade" - pela dificuldade de fazer com que as palavras se encaixassem naquela estrutura melódica cheia de idas e vindas.»

in Chega de Saudade, A História e as histórias da Bossa Nova, Ruy Castro

(Nota - A versão que está a tocar no Media Player não é a do LP Chega de Saudade, mas sim do disco de João Gilberto - João Voz e Violão).

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Neura do ex-expatriado - VII

Chegar a algum sítio e pensar: «isto está cheio de portugueses».

terça-feira, dezembro 06, 2005

Este blog é hiper-partidário

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Eu sou um candidato suprapartidário.



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Não, o senhor é apoiado por partidos. Eu é que sou apartidário.



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Pois é, somos os dois suprapartidários.



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Vamos lá a ver se nos entendemos. Aqui não há suprapartidários. Ou há partidários, ou rejeitados, ou aquele rapaz dos óculos... como é que se chama?



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Francisco, eminência...



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Isso, Frederico... E quem é este aqui no canto? O D. Miguel?



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Não sei, eu apareci na busca do Sapo por imagens do Jerónimo de Sousa.



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Eu sou um candidato suprapartidário.


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Ò homem, está bem, cale-se lá com isso, ainda se engasga!


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Pois é, somos os dois suprapartidários.


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...

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Você conhece aquela dos quatro portugueses que foram beber uma cerveja a Itacimirim?

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sábado, dezembro 03, 2005

Update musical

Samba do Avião, versão do disco Tom Jobim - Inédito, relançado em boa hora pela editora Jobim Biscoito Fino. Danilo Caymmi acompanha o maestro na voz, por trás distingue-se um excelente coro onde estão presentes, entre outros, Paula Morelenbaum e Simone Caymmi.

As melhores interpretações do repertório Jobiniano encontram-se geralmente em arranjos simplificados (não simples), onde marca pauta o piano do mestre, o violão de Toquinho, o uísque de Vinicius; ou, obviamente, o homem-orquestra João Gilberto (sem falar dos mais recentes quarteto Morelenbaum / Jobim, ou do trio Morelenbaum / Sakamoto).

Neste disco, um dos últimos trabalhos do compositor, ainda em 1987, com A Banda e as «moças», sublima-se a capacidade musical do maestro, uma orquestração e arranjos bem marcada pela «economia musical de Jobim» (e o coro, mais uma vez, que coro) e apagam-se as mais variadas gravações menos boas de anos anteriores, algumas delas marcadas por clichés dos anos 80 - com grandiloquências sintetizadas e violineira disparatada - de outros intérpretes.

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Samba do Avião

Eparrê,
Aroeira beira de mar
Salve Deus e Tiago e Humaitá
Eta, costão de pedra dos home brabo do mar
Eh, Xangô, vê se me ajuda a chegar

Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudade
Rio, teu mar, praias sem fim
Rio, você foi feito pra mim

Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar
Dentro de um minuto estaremos no Galeão

Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
Copacabana

Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Aperte o cinto

Vamos chegar

Água brilhando, olha a pista chegando
E vamos nós
Pousar

Esse Rio de amor que se perdeu

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Lagoa Rodrigo de Freitas vista do Corcovado, casa do Redentor. Saindo da Fonte da Saudade, cruza o viaduto, passa pela escola e pela Igreja, depois segue caminhando pela esquerda. Logo apanhará a Rua Vinicius de Moraes (que outra?) que desemboca lá na praia mítica de Ipanema. Seguindo caminhando entre a praia e hotéis e condomínios de luxo, chegará lá no Leblon, bairro da antiga e da nova boêmia carioca, com sorte encontra até o Chico tomando o café da manhã. Mulheres bonitas, surfistas, maconheiros, estudantes, todos passeando no calçadão. Voltando para Ipanema tome a Visconde de Pirajá, onde encontra a Pizzaria Guanabara esperando sua hora mais movimentada: já bem depois da madrugada, depois do fim dos shows, da noite carioca. Se por acaso se cruzar com a Nascimento Silva e quiser ir procurar o 107, saiba que não mais que um simples prédio você vai encontrar, mas não fique triste meu amigo, nem todo o amor foi loteado. Com sorte, com a companhia certa, você vai escutar as canções da canção do amor demais, você vai sambar junto com esse povo num qualquer teatro lá perto da cinelândia, você vai descobrir que quem põe o maravilhoso nessa cidade não é aquele livrinho que você comprou, mas sim toda essa música, toda essa poesia, que você ainda pode escutar nas certas esquinas.

Soneto de Quarta-Feira de Cinzas

Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada

Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada

Porque te vi nascer, de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura

Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.

[Vinicius de Moraes]

quinta-feira, dezembro 01, 2005

SHOW da Thalma de Freitas, perdão, Orquestra Imperial, no Circo Voador (Lapa - Rio de Janeiro)

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E a morena sambou.
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