segunda-feira, abril 17, 2006

Notas pouco cuidadas sobre um fim-de-semana pascoal

Foi a primeira vez que voltei a uma das duas cidades estrangeiras onde vivi, uma experiência que sempre adivinhei de sensações fortes. Às vezes gosto de dramatizar por antecipação, mesmo que depois as coisas aconteçam de forma natural.

Deu para perceber porque é que foi um privilégio morar em Londres, e também porque é que não me custou assim tanto regressar a Portugal. O tempo esteve perfeito: algo merdoso, com chuva ocasional - não esperava, nem queria, outra coisa.

É claro que três dias, duas noites, não dá para muito. Mesmo assim deu para relembrar o que é o inferno das promoções megastóricas da Virgin e da HMV; ou como a Topshop sodomiza violentamente qualquer pronto-a-vestir de Portugal. Depois há as feiras, de que é melhor não falar.

E foi agradável ouvir o Mylo outra vez ao vivo este ano, constatar que o disco do homem é um bocado sobrevalorizado, mas que ele vive bem o papel de dj superstar. E vai-se tornando necessário olhar em redor num sítio à noite e não ver aquela estranha mescla que se tem tornado a clientela do Lux, onde cada vez se vêem mais forcados e meninas de argolas que comentam o estilo de dança dos rapazes de camisolas justinhas. Qual é o meu problema com o Lux? Exijo sempre mais daquela que - ainda - é, para mim, a melhor discoteca que existe.

Depois há aquela questão: será que as pessoas vão para Londres e assumem personalidades diferentes? Ou o que acontece é que toda a gente se relaciona de uma maneira diferente (mais evoluída)?

Lembro-me, por exemplo, do célebre paradigma - propagado pelos pequeninos círculos sociais da mentalidade provinciana portuguesa - da menina de boas famílias portuguesa que se transforma numa devoradora de homens londrina. Claro que há de tudo, but the air over there is so much cleaner, if you catch my drift (pun intended). Refreshing.

Também sei que o português típico é um espécime bem mais agradável do que o inglês típico. Mas em Londres encontram-se poucos ingleses típicos, felizmente. Do mesmo modo que sei que o português típico com tiques de estrangeirado pode ser o mais irritante deles todos.

Deu ainda para ser barrado à porta de um clube pouco exclusivo perto de Piccadily Circus (os meus ténis brancos da Fred Perry brilharam ostensivamente e cegaram um porteiro histérico), para poucos minutos depois estar a entrar num clube bastante exclusivo em Mayfair.

Londres é feita de surpresas, este fim-de-semana conseguiu condensar muitas delas em dois dias e poucas horas de sono. Culturalmente falando deu para beber um café nas cadeiras de plástico colorido, tipo sala de ATL, do Museu do Design. Não passou muito disso, embora as cores e o ambiente do Borough Market, logo ali ao lado, valerem mais do que muitos espaços culturais da cidade.

Para terminar, e digerir duas ressacas acumuladas, nada melhor do que um English Breakfast em Hoxton Square às duas da tarde, com a companhia dos boémios que se mudaram da Cadmen dos anos 70 para Shoreditch. E isto tudo sem sequer referir o que realmente interessa.
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