quinta-feira, agosto 21, 2008

Intimidades, intimismos e inibicionismos

Ainda outro dia um amigo meu me falava sobre um Chef, de um restaurante portuense, que quando não está satisfeito com a qualidade dos pratos, os atira contra a parede. “Deve ser para ver se pega”, respondi. A minha namorada disse-me logo para não ser parvo.

A verdade é que talvez não tenha sido um amigo meu a dizer-me isso, pode ter sido uma amiga, ou ainda um mamífero não especificado. E em vez do Porto, é possível que o restaurante se situe em Madrid, ou Lisboa, ou em Varsóvia.

Talvez não falássemos sequer sobre um Chef, podia ser sobre um empregado de escritório que, em vez de comida, goste de arremessar o agrafador contra a parede. A ver se pega. Talvez não tenha namorada, ou tenha e goste imenso dela, já que, na verdade ela ri-se das minhas piadas, o que faz dela a melhor namorada do mundo, mesmo que seja imaginária.

Não se deve escrever abertamente sobre pessoas que se conhece no blogue. Há coisas que o mundo não deve saber, a intimidade é uma delas. A intimidade dos outros acaba no ponto em que sabemos que toda as mulheres usam protecção menstrual, mas apenas alguns homens usarão papel higiénico. Há que estabelecer limites.

O argumento da cronologia elíptica também não pega. É que se foi algo que aconteceu há dois anos atrás, por que nos lembramos disso agora? Por que falar disso, daquela, daquilo? É porque estávamos a pensar nisso, sem dúvida. Se eu me lembrar da equipa do Milan que deu 4-0 ao Barcelona na final da Liga dos Campeões de 1994, também não restarão dúvidas que os gostaria de fazer a todos, mas com limite de inscrição de estrangeiros, como havia na altura.

E, já agora, será que quando Pedro Mexia escreve coisas como “C. vestia hoje um vestido arrivista que me deprimiu pela redenção do decote”, haverá alguém que lhe pergunte se é uma referência a Carlos, o contabilista da Cinemateca?

quarta-feira, agosto 13, 2008

A minha apreciação ao EP dos Soulbizness ou como conseguir fazer referências aos U2 e The Police sempre que se escreve sobre música

A primeira vez que ouvi Soulbizness foi um demo caseiro de uma canção chamada “Breaking News”, que o Rodrigo me mostrou em 2005. Foi um choque tremendo.

Tinha passado cinco anos da faculdade a achar que o Rodrigo era um baixista empenhado, uma pessoa com bom gosto musical e alguns outros atributos, como ser um bom amigo e ter engenho para inventar algo que o mundo viria a reconhecer como Rod Manouver.

A partir daí tive de fazer um esforço e aceitar o facto que aquela pessoa que me divertia com o seu ódio visceral a todas as coisas U2, também era um compositor de talento e um vocalista de respeito.

Quatro anos depois, vários concertos, a vitória no TMN Garage Sessions, o Festival Sudoeste, os Soulbizness, Rodrigo Gomes e Filipe Campos, editam o primeiro EP – Collectables.

O EP abre com a aparente tonalidade bubblegum sexy de Oh Sugar, onde as teclas ameaçam rotular o som de Jamiroquaesco. O Jay Kay nunca deixará de ter valor, mas os Soulbizness não andam aqui a brincar, e a meio da canção os primeiros sinais do Soul e do Funk começam a rasgar pela superfície através do baixo e da voz. Um single forte, que esconde uma grande maturidade (não esquecer que os Soulbizness dividem créditos de produção e arranjos).

TMHSR, ou Teenage Mutant High School Rockers, tem qualquer coisa da dinâmica grunge, versos lentos e refrão acelerado (popularizada pelos The Police), mas numa inversão inteligente. Uma estrutura que carrega de forma excelente a indignação alegre contra o fenómeno das teen band fabricadas, e que vai descolando até aterrar num solo de guitarra que nos relembra bem que ser cool não tem nada a ver com modas.

Em Not The Man os sintetizadores ecoam num ambiente Motown, onde o vocalista womanizer pede desculpa por ser um cabrão mas a vida é assim e no fundo ela é que lhe tem de agradecer a franqueza e os bons momentos. A guitarra tenta equilibrar a equação entre os elementos de Soul e Funk, mas a canção perde um pouco de balanço pela pouca proeminência do baixo. Dá a sensação que as linhas que se conseguem ouvir, sobretudo no refrão, mereciam mais, sobretudo pelo que se percebe ao vivo.

Mouthful brilha com mais força nos momentos mais ‘despidos’ de produção, que é quando se calam os sintetizadores e outros artifícios. É uma canção tensa, que oscila entre a contenção e a confissão, e que ocasionalmente se disfarça de balada. O resultado final não deixa de ser Soul, bom Soul.

Não é fácil avaliar um álbum quando se tem como comparação um bom número de actuações da banda ao vivo. São quatro excelentes músicas que lançam bases sólidas sobre o que são os Soulbizness: a energia do Funk, a verdade do Soul e um talento enorme. Ainda assim, este EP, por razões de espaço e produção, não faz inteira justiça aquilo que já não é o potencial dos Soulbizness – mas sim o valor que a banda tem hoje e que confirma nos concertos.

Ainda assim, isto não é nada negativo, pelo contrário. Conseguir ser melhor ao vivo do que no disco (e é só um primeiro EP) é uma qualidade que não está ao alcance de muitos, e que distingue, geralmente, os melhores.

http://www.myspace.com/soulbizness

Vídeo oficial (Oh Sugar)

Vídeo não-oficial - Soulbizness vs. YouTube All-Stars (autoria OQE1BLOG):

Nedstat Basic - Free web site statistics
Personal homepage website counter