quinta-feira, setembro 02, 2004

V. e o Schlemihl

Benny Profane, a schlemihl and human yo-yo, gets to an apocheir.

Não é fácil começar um livro que na primeira frase tem duas palavras que não aparecem num Oxford Advanced Learner's, mas lutar com V. é lutar com um maníaco chamado Thomas Pynchon. É um prazer. Pynchon é o autor das cerca de quinhentas páginas de uma das obras, a par de Catch-22, Joseph Heller, que mais marcaram a cena contemporânea da literatura americana - ou, pelo menos, as minhas (poucas) leituras pela ficção americana. É difícil tentar dizer do que trata o livro, quase tão difícil como explicar quem, ou o quê, é V.
Pynchon escreve com um sentido estilístico irrepreensível, atormenta-nos com um domínio anormal a nível de vocabulário e de conhecimentos factuais e com uma catadupa niagaresca de simbolismo. A escrita é ao mesmo tempo moderna sem ser modernista, no sentido que o autor não parece muito interessado em desvarios estilísticos - o que, pessoalmente, prefiro. Dos aspectos mais marcantes do livro é que por baixo das várias camadas de superficialidade com que Pynchon nos vai apresentando as personagens está uma realidade muito crua, que nos agarra e torce as entranhas, ao mesmo tempo que nos identifica com figuras deslocadas ou desoladoras.

"There's nothing inside. Only the scungille shell. Dear girl -"Saying it as phony as he knew how-"schlemihls know this and use it, because they know most girls need mystery, something romantic there. Because a girl knows her man would be only a bore if she found out everything there was to know [...] And I'm using this love that you still, poor stupe, think is two-way to come like this between your legs, like this, and take, never thinking how you feel, caring about whether you come only so I can think of myself as good enough to make you come..." So he talked, all the way through, till both had done and he rolled on his back to feel traditionally sad.

Deitados de barriga para cima. À margem. Enquanto a vida corre à nossa frente sem passar por nós. Sem conseguir dar, apenas receber, das coisas, dos objectos, das pessoas. Um schlemihl.


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