Não é pressão, é sugestão, estúpido
O que importa aqui não é a martirização de Marcelo enquanto vítima de um estado censurador e pouco democrático. Não é a palhaçada que o país continua a viver, com um governo que tem a pontaria do Averell Dalton e o timing do Pinilla a rematar à baliza, com audiências no Palácido de Belém e Cavaco Silva agastado com pressões sobre a imprensa. O que importa aqui é o facto de Paes do Amaral ter «sugerido» ao Prof. Marcelo alterar o formato da sua crónica, apenas isso, e não se houve pressão flagrante, censura de «lápis azul», tirania governamental, ou o que lhe quiserem chamar. Os grandes grupos de concentração dos média, o domínio tentacular do grupo PT na área das comunicações em Portugal, e a promiscuidade entre os partidos e as posições de administração de áreas influentes da vida portuguesa, entre outros factores, asseguram que a realidade mediática não está, nem poderia estar, isenta de qualquer tipo de pressão. Por outro lado seria de uma infantilidade extrema pensar que a pressão, quando exercida de forma eficaz, se faz com telefonemas ameaçadores, murros na mesa de administradores ou botas de gesso nas margens do rio Tejo. A pressão faz-se, frequentemente, por sugestões, conselhos, «caixas exclusivas», sondagens encomendadas, agendas, omissões, presentes todos os dias no panorama mediático português.
O cenário (ainda) não é catastrófico, já que as regras do jogo conseguem impedir que, nalguns casos, certos valores sejam comprometidos. No entanto, se parte da imprensa portuguesa não é um deserto de valores jornalísticos, generaliza-se a tendência de nivelização por baixo, que é acompanhada - em certa escala e de forma preocupante - pelas ditas «publicações de referência».
Claro que uma sociedade que olha para as selvajarias do mercado livre como parte de um esquema cósmico-universalista, onde o que importa é celebrar o triunfo do neoliberalismo, nunca conseguirá (por defeito de fabrico) levar estas questões de forma séria. Mesmo que se continue a indignar, a preocupar, a revoltar; a pressão, a verdadeira pressão, só vem de um dos lados.
O cenário (ainda) não é catastrófico, já que as regras do jogo conseguem impedir que, nalguns casos, certos valores sejam comprometidos. No entanto, se parte da imprensa portuguesa não é um deserto de valores jornalísticos, generaliza-se a tendência de nivelização por baixo, que é acompanhada - em certa escala e de forma preocupante - pelas ditas «publicações de referência».
Claro que uma sociedade que olha para as selvajarias do mercado livre como parte de um esquema cósmico-universalista, onde o que importa é celebrar o triunfo do neoliberalismo, nunca conseguirá (por defeito de fabrico) levar estas questões de forma séria. Mesmo que se continue a indignar, a preocupar, a revoltar; a pressão, a verdadeira pressão, só vem de um dos lados.
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