A tradição
Manhãs de sábado: ela passeia o telefone pela casa, oferecendo descrições personalizadas da saída da noite anterior. Uma para cada amiga, todas adaptáveis à pessoa do outro lado da linha - porque as amizadades são sempre diferentes -, o discurso, o fio narrativo, o vocabulário, a acentuação dramática nas expressões, há sempre ligeiras nuances. O constante é ter de dizer em meia-hora o que podia ser resumido a quatro linhas de diálogo (será que as mulheres são abençoadas com algum tipo de capacidade queiroziana de descrição?), mas há aqui um automatismo qualquer que torna todos felizes: elas confirmam que continuam a saber tudo da vida umas das outras - mesmo que tenha acontecido o mesmo que num mês de telenovela brasileira - e eu apanho os pormenores que me interessam e não tenho de perguntar nada.
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