terça-feira, novembro 16, 2004

How I learned to stop worrying and love the Bomb

Não é um grande álbum de U2. Não podia ser. Não agora, não depois da trilogia dos anos 90, depois de Achtung Baby - Zooropa - Pop. Mas é o novo disco da maior banda de rock n' roll da actualidade (eu disse maior, não melhor, escusam de ficar com os pêlos das costas eriçados), e é bom, é bastante bom. Não subscrevo a teoria de que, para mim, qualquer coisa que os U2 editem seja boa. Pode ser comestível, pode ser experimental, ou até uma grande merda. Claro que não há nenhum disco deles que eu não goste, mas há muitas canções que são francamente más. Alguns dos b-sides, por exemplo, são, na sua grande maioria, pedaços de bosta recauchutada. Também não sou ouvinte frequente da fase inicial, outra trilogia: Boy - October - War.
How to Dismantle an Atomic Bomb é um bom álbum para qualquer fã da música dos U2; um presente de Natal seguro para pessoas com menos de 35 anos que se vistam de maneira normal; e um testemunho que diz, nas palavras do Bono, «we shall not go down easily».

O mundo já foi conquistado, o Tratado de Tordesilhas já é História. Já houve Trabants pendurados num palco, limões gigantes que se transformavam em bolas de discotecas e deixavam sair músicos lá de dentro, conferências de imprensa dadas no Wall Mart e Rock The Vote. Agora é brincar aos maiores do mundo. É fazer discos que mostrem aquilo que se sabe fazer bem, e tentar que as pessoas percebam porque é que o Edge não se importa de ser o guitarrista mais subvalorizado da história do Rock (resposta: porque é um génio). É continuar a fazer discos que mexam com as pessoas, que apertem qualquer coisa cá dentro. Há melhores, é verdade. Vai ser um clássico? Não me parece. Mas tem Vertigo, que mostra que eles estão atentos ao que se passa. Possante, mas ligeiro, não deixa muito espaço para complacências, chegando até a abrir um estrada para um caminho com possibilidades interessantes e que podia levar a resultados surpreendentes, ou mesmo maus. Tem Miracle Drug, a roçar os contornos daquele rock épico desavergonhado que já ninguém tem muita coragem de fazer. Uma canção do caralho. Atenção também a Original of The Species, Crumbs From Your Table, City of Blinding Lights e Sometimes You Can't Make It On Your Own. Prometem-se refrões daqueles em que a voz do Bono acaba com qualquer hipótese de uma noite calma; guitarras etéreas, flutuantes, omnipresentes, que, invariavelmente, caem do céu a rasgar a banalidade de algumas das letras; linhas de piano simplesmente bonitas, e a secção rítmica a tentar puxar tudo para a Terra. Nada de novo, mas bom, sempre bom.

E é sempre bom não esquecer que ao vivo o álbum vai ganhar nova dimensão (ver o que aconteceu com o Pop, por exemplo). Que há canções que vão ser remetidas para a obscuridade, enquanto outras serão reiventadas, redescobertas, reinterpretadas. E saber também que há muitos refrões para gritar no meio de muita gente suada e desafinada, que sabe que ninguém sai indiferente de um concerto dos U2, que sabe que os U2 são a maior - e a melhor - banda do mundo.


Um génio sem o seu barrete (no Barreiro)
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