segunda-feira, dezembro 06, 2004

Ao cuidado de alguém

A andar por aqui, descobri isto. É sempre bom saber que há esperança para o mundo. Mas o que me chamou mesmo a atenção foi o título do post, assim como o último parágrafo do mesmo. Especificando: dois jabs, ainda por cima golpes baixos, a Bonos, Springsteens e companhias. Não sou advogado dos senhores, nem eles precisam, mas acho que muitas vezes nas discussões sobre globalização há bastantes equívocos. E isso também se estende numa espécie de facilitismo no insulto dirigido contra figuras mediáticas que lutam a favor de causas.

Sobre o texto em questão, não sou particular especialista em assuntos económicos, nem nunca li qualquer relatório do Banco Mundial. Lembro-me apenas que há uns anos a Argentina era a menina querida do FMI, e que quando caiu o comunismo na Rússia a comunidade financeira internacional contribuiu de forma vincada no aparecimento dos oligarcas. Não sei se será prematuro tirar conclusões largamente optimistas de um relatório sobre um ano que nem sequer terminou. Mas se há razões para sermos optimistas, óptimo. Não quer dizer é dizer que não se pode ser ainda mais optimista, ou pessimista (depende da perspectiva), e acreditar que as coisas podem ser feitas doutra maneira, ou levando em consideração outros aspectos.

A mim a globalização parece-me um fenómeno excelente. Sou um grande fã, e, inevitavelmente, uma espécie de produto, da globalização. Parece-me é que há muito boa gente que divide a discussão sobre o assunto em dois campos: de um lado os advogados do capitalismo, do comércio livre, e da circulação de capitais sem barreiras; do outro as pessoas que gostam de ir partir montras de McDonald's. A questão do comércio livre parece-me aqui particularmente importante. O fenómeno da globalização económica pode ser concebido e formulado de várias formas. Tenho alguns problemas com a demagogia que se associa a expressões como «livre circulação de capitais», que dizer dos casos em que a especulação aliada a capitais flutuantes já levou países e zonas do mundo à bancarrota, ao mesmo tempo que se proclamam os benefícios do levantamento das restrições comerciais, que, nas limitadas condições impostas pelos países que mandam no mundo, continuam a ser prejudiciais para os países menos desenvolvidos? O que o senhor que escreve o artigo, e a pessoa que o dedica ao Bono, Springsteen, Dr. Soares, e Ana Drago, parecem não perceber, é que pode ser-se a favor da globalização e acreditar que ela pode ser feita de outro modo.

É isso que Mário Soares vem defendendo, sobretudo nos artigos do Expresso, ao longo de vários meses. É isso que os Coldplay dizem, quando apoiam a organização Make Trade Fair. O Bono já é um caso mais extremo. E muito menos popular. O cantor dos U2 meteu-se na realpolitik. Passou a vestir fatos e a ir a cimeiras económicas mundiais. Esteve em Génova, é verdade, mas também esteve em Davos. Esteve com o antigo secretário do tesouro norte-americano, Paul O' Neill, numa «digressão» pela África infectada com SIDA. Foi discutir ciências económicas com os melhores professores de Harvard, tanto os conservadores como os mais liberais, porque queria ouvir as duas versões da história. Reune-se com senadores republicanos e democratas, fazendo lobby para uma causa que acredita transcender the os meandros da política mais resteira. Ninguém estranhou que Bono não tivesse apoiado ninguém nestas eleições americanas? Já o tinha feito com Clinton. Mas os tempos do Rock The Vote acabaram. Agora há um projecto para concretizar. E para isso o vocalista da maior banda rock do mundo aperta a mão a seja quem for. Bono foi ao O'Reilly Factor e conseguiu pôr um dos mais agressivos entrevistadores americanos a concordar com as suas opiniões. Também conseguiu pôr um dos senadores mais conservadores dos EUA a chorar, quando foi por caminhos da religião e do papel do Homem na Terra. Goste-se ou não, concorde-se ou não, reconheça-se o que é devido. É fácil subir a um palco e gritar a 90 mil pessoas que o mundo é uma merda por causa dos políticos. Também é fácil apontar para uma estrela pop e criticar a presunção de pessoas que julgam que podem mudar o mundo, e que nem o sequer o compreendem. É fácil sermos redutores, colar rótulos, afundar-nos no cinismo. Mas, e para acabar em bom tom, que estamos em época natalícia, e tal, uma citação do B-man: «I don't believe I can change the world, but I believe that we all can».

Bono, U2's lead singer, and an unkown man.
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