quarta-feira, dezembro 22, 2004

A conversão de Martino Cepillo

Crentes de todo o mundo regozijaram-se ontem com o anúncio da conversão à fé católica por parte de Martino Cepillo. Fizeram-no entoando sublimes cânticos em dó menor, tocados em violas com transpositores, e mastigando copos de vidro. Para os mortais menos atentos – ou aqueles que gostam de sair à noite e apreciam o contacto físico com mulheres voluptuosas (ainda que não distingam uma cotovelada de um convite à proximidade corporal) – Martino Cepillo era um dos grandes porta-estandartes do ateísmo mundial. Publicado em sete línguas, três dialectos e na língua dos pês, a sua obra é caracterizada pelo feroz ataque à fé e às religiões, e pela insistência em escrever deus com letra minúscula. Os círculos do Vaticano classificavam-no de «infantil e sem substância»; Cepillo limitava-se a responder – «va fancullo padre di merda». Recorde-se que, já com 17 anos, Cepillo descia a Via dei Fori Imperialli e atirava com bocados de coluna dórica aos transeuntes que cheiravam a missa. À noite esgueirava-se pela praça de S. Pedro e levava para casa a espada da estátua de S. Paulo, que trocava todos os domingos, na feira de Porta Portese, por boletins usados de totoloto.

Agora, com 89 anos, anunciou a sua negação das crenças ateístas ao mesmo tempo que abraça a fé católica e, com esperança, algumas carmelitas. Disse-o a um amigo, durante um duelo com sopas de espinafre ao longo de um almoço em Villa Borghese. No fim do refeição já não se lembrava do nome do amigo, nem da sopa de espinafres, mas acenava convictamente com a cabeça quando o outro lhe perguntava ser era verdade que agora era católico. À saída do restaurante fez questão de abrir o sobretudo e exibir os genitais a um grupo de estudantes de liceu que passavam, sempre acenando de forma convicta com a cachimónia, chocando-os com a imagem da sua dentadura amarelada pela nicotina e pontilhada de espinafres. Pouco tempo depois o amigo perdeu-o de vista porque, ao descer a Via Veneto, Cepillo entrou aleatoriamente num carro que estava parado e pediu para ser levado ao fórum romano, já que tinha assuntos importantes a tratar com Marcus Lipius. Algumas horas depois o filósofo foi visto enrolado na coluna de Trajano, que abraçava com vigor, deslizando subtilmente em seu redor. Demorou algum tempo até que a polícia o conseguisse remover do local, já que Cepillo insistia que tinha de encontrar «um particular relevo, recomendado por Lipius, cujo toque indiciava uma sensação muito semelhante à de acariciar um mamilo de uma vestal».

A coluna de Trajano ou uma alcunha ao alcance de poucos
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