segunda-feira, janeiro 10, 2005

A Cruzada de Mourinho e O derby


Gritar "Toma, caralho!", junto a milhares de pessoas em extasiante e imbecil uníssono, das bancadas do Estádio de Alvalade, deixou-me um sorriso na cara durante o fim-de-semana e mentalmente indisponível para discutir o jogo com perdedores. Gostaria, no entanto, de recuperar algumas palavras de José Mourinho, sobre o jogo, no Record de domingo passado.

Começa assim: «Parece contraditório, mas o Sporting foi melhor com dez. Inicialmente em 4x4x2 – um sistema que tive de estudar para desenvolver, no qual a disciplina táctica assume preponderância para a ocupação equilibrada». O Sporting foi melhor com dez, com onze, e, desconfio até seria melhor com nove. Confesso que gostava de saber o que é uma ocupação equilibrada. Será que J. Mourinho está a fazer um crítica indirecta à ocupação americana do Iraque?

Algumas linhas depois aparece: «O Benfica – ao contrário do que já ouvi e daquilo que seguramente se irá escrever – não teve falta de ambição. Teve falta de qualidade. Para se ter ambição tem de se ter confiança; para se ter confiança tem de se ter qualidade.» Ou seja, este Benfas sucks.

Depois vem o momento religioso: «Para alimentar a esperança de todos aqueles que como eu têm saudades de Mantorras, vimos-lhe dez minutos a pedir mais e que Deus o ajude». Não sei se entendo quem "pede mais", se Mantorras, se Mourinho ou o comum mortal, mas o que importa é ter fé.

No fim, genial, a dimensão religiosa tranfigura-se em dimensão quixótica (assume a "sua" cruzada) e Mourinho adopta uma postura Clara-Ferreira-Alvesiana de "ando há anos a tentar educar este povo":

«No "flash interview" ouvi falar de quebras físicas e logo dei por mim a pensar que a minha cruzada vai ser mesmo difícil. É que não consigo mesmo que se perceba que isso não existe. A forma não é física. A forma é muito mais que isso. O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física. E os nossos comentadores/repórteres, como quase sempre, continuam a influenciar negativamente a opinião daqueles que, em suas casas, precisam de ser orientados na sua capacidade de absorção ou entendimento do jogo».

Num só texto J.M. dá lições de táctica e entendimento futebolístico, critica o imperialismo americano, demonstra que preocupações sintácticas não são importantes quando se é um génio, faz afirmações de Fé, assume-se como um cruzado, acusa a imprensa desportiva portuguesa de ser ignorante com efeitos perniciosos e diz o que toda a gente, menos o José Veiga, sabe: este Benfica é uma merda.

You gotta love him...

«Ocupação equilibrada! Ocupação equilibrada! percebes?"
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