quarta-feira, março 23, 2005

O Homem do Tajiquistão

Em qualquer sítio habituamo-nos a ver pessoas cansadas, com pouca paciência, tristes, desgostosas, irritadas. Mas há qualquer coisa num olhar que carrega aquela tristeza da saudade. A saudade que não pertence a nenhum povo, a nenhuma canção, a nenhuma cultura. A saudade que sentem aqueles que começam vidas novas em terras estranhas. Que deixam famílias, amigos, filhos para trás. Para quem a expatriação não é um desafio, é uma necessidade.

Como o homem do Tajiquistão. O homem do Tajiquistão não fala inglês. «I speak very good not english», disse o homem do Tajiquistão no primeiro dia, e depois pouco falou.

O homem do Tajiquistão veste sempre calças pretas, os mesmos mocassins gastos, e alterna entre dois blasers de flanela, que combina com três camisolas de malha diferentes. Uma cicatriz desce do nariz até ao lábio, interrompendo o caminho daqueles bigodes que só se deixam usar por chefes de família. O homem do Tajiquistão deixou a mulher e os filhos para trás, porque teve de o fazer, porque para que a família tenha o seu lugar no mundo foi preciso vir enfrentar um novo mundo.

Depois de uma vida dedicada a superar obstáculos que qualquer pessoa que está a ler este blog (e a escrever) só consegue imaginar como um qualquer filme parolo com imagem rasca, o homem do Tajiquistão tem de arrastar-se a sobreviver numa cidade que lhe pode oferecer tudo o que ele nunca teve; mas das Tates aos Concert Halls, de Portobello a Spitalfields, do National Film Theatre aos French Wine Bars, imagino que não haja nada que consiga apagar aquela tristeza dos olhos do homem do Tajiquistão.
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