sábado, dezembro 10, 2005

Como é que se concretiza um novo movimento musical, compõe um clássico, e justifica a permanência de um ser humano durante quatro horas no WC

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«Mas algo lhe despertou uma centelha porque, de repente, ele [João Gilberto] passou a tocar violão dia e noite, encerrado no quarto, como se tomado por uma obsessão. No princípio, nada que tocava fazia muito sentido: o mesmo acorde era repetido um zilhão de vezes, em duplicatas quase perfeitas, exceto quando ele lhes acrescentava a sua voz.

Descobriu que a acústica do banheiro era ideal para ouvir a si próprio e ao violão. Todos aqueles ladrilhos e azulejos, infiltrados há anos de umidade e vapor, formavam uma espécie de câmara de eco - as cordas reberveravam e ele podia medir sua intensidade. Se cantasse mais baixo, sem vibrato, poderia adiantar-se ou atrasar-se à vontade, criando o seu próprio tempo.»

«Tom [Jobim] anteviu de saída as possibilidades da batida, que simplificava o ritmo do samba e deixava muito espaço para as harmonias ultramodernas que ele próprio estava inventando.»

«"Que coisa mais boba, rimar peixinhos com beijinhos", comentou Lila.
Mas Vinicius não devia estar para muita conversa e rebateu:
"Ora, deixe de ser sofisticada."
Anos depois, Vinícius diria que uma das maiores surras que uma letra lhe aplicara tinha sido a de "Chega de Saudade" - pela dificuldade de fazer com que as palavras se encaixassem naquela estrutura melódica cheia de idas e vindas.»

in Chega de Saudade, A História e as histórias da Bossa Nova, Ruy Castro

(Nota - A versão que está a tocar no Media Player não é a do LP Chega de Saudade, mas sim do disco de João Gilberto - João Voz e Violão).
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