quarta-feira, março 15, 2006

Roma VII* - The Summer of 69'

*(tive de ir aos arquivos ver qual seria o próximo número desta pseudo-série, em mais uma orgulhosa prova da consistência editorial deste blogue)

Nos muitos dias de ociosidade - e foram tantos, thank god - da minha temporada em Roma, costumava ressacar dando longas caminhadas pela cidade. Apanhava o tram 8 para o centro, saía no Largo Argentina, e andava por ali às voltas, muitas vezes sem rumo definido - mas com o magnífico Panteão sempre como paragem obrigatória. Sentava-me na esplanada do McDonald's (era a única ao alcance do portafoglie de um estudante boémio), de costas devidamente voltadas para os arcos dourados, e ficava a contemplar a magnífica Piazza della Rotonda e o templo mandado construir por Adriano (que Bernini alguns séculos mais tarde tentaria assassinar, através da colocação de dois campanários).

Com o tempo também me tornei especialista em todas a bancas de Pizza a Taglio de Roma, a que dava classificações de 0 a 5, e já fazia tours elaborados da Igreja de Sant'Ignazio, impressionando as miúdas com os efeitos visuais que causa aquele magnífico tecto pintado em Trompe l'oeil.

Ainda dando graças pelo facto da minha universidade ser mais caótica do que a sinalização das estradas portuguesas, e a frequências às aulas ser, de certo modo, desencorajada (não havia lugares para todos) consegui atingir vários objectivos importantes: ver tudo que estivesse relacionado com o Miguelângelo e o Caravaggio, tomar banho numa fonte pública à noite, e ter sido quase preso por um Carabinieri numa madrugada na Piazza del Popolo.

Um dos poucos objectivos que falhei foi o de ver todas as Igrejas de Roma, mas chegou uma altura em que já era Barroco e Bambini Gesú a mais.

Nestas deambulações, a última paragem era invariavelmente o bairro de Trastevere, já no caminho para casa. Depois de atravessar a ponte Garibaldi a pé, costumava entrar pela magnífica praça da Chiesa de Santa Maria de Trastevere, com as representações da Virgem naquele bonito mosaico medieval. Bellissimo.

Mas havia outro motivo que me levava a passar lá quase todos os dias. No exterior de uma pequena galeria de arte, cujo dono (suponho, nunca tive coragem de perguntar) era um velho com um ar alucinado que estava sempre à porta, expunha-se uma das ousadamente piores pinturas que tenho visto. Vivi sempre na esperança de que alguma mente ainda mais alucinada do que a do velho pintor se apaixonasse pelo quadro - por motivos que preferiria nunca saber -, e o fizesse desaparecer dali para sempre. Nunca aconteceu.

Inserido numa fila de quadros cujos temas eram folhas de árvores, chamava-se The Summer of 69', e era qualquer coisa neste género (mas a cores):

É genialmente mau, mas não deixa de ser genial.
Nedstat Basic - Free web site statistics
Personal homepage website counter