O meu primeiro 'hate-mail' - o Joy!

As minhas mãos ainda tremem de entusiasmo orgasmático - chegou, finalmente, um e-mail de alguém que irritou com este blogue. Sempre invejei bloguistas que recebiam hate-mail. Sempre quis receber hate-mail. Já entrei em polémicas de newsgroups, já tive bate-bocas em caixas de comentários, já fui lincado e devidamente refutado por bloggers mais inteligentes e engraçados do que eu, mas nunca tinha tido o prazer de receber correio electrónico enfurecido. Hoje é um dia feliz.

Ainda por cima carregado de perguntas que vou perder tempo a responder, porque a primeira vez é sempre especial, e nunca se esquece a primeira vez (embora seja quase sempre má).

Sem mais demoras, ei-lo:
'Rock, Biblia, Parvos'
«Como é que um gajo pode perceber alguma coisa das músicas dos U2, ou sequer sentir alguma coisa por elas, sem conhecer a Biblia? Foda-se, mas andamos a brincar? Se não fosse o paneleiro do Judas ter traído Jesus, a esta hora não havia Until the End of the World. Se não fosse Jesus, o maior rocker de todos os tempos, não havia October, Joshua Tree, etc, etc. Lá por um parvo,como o João Neves, não dar uma para a caixa, isso não faz parvos todos os cristãos (o que é um bocado diferente de ser católico). Bom, armando-me em protestante, vamos lá a ter calminha com os comentários, senão não vos«amando» com os Outakes do Achtung.»

[hate mailer devidamente identificado]

Como é que um gajo pode perceber alguma coisa das músicas dos U2, ou sequer sentir alguma coisa por elas, sem conhecer a Biblia?

Da mesma maneira que muitos cristãos sentem alguma coisa por Deus e não conhecem a Bíblia? Er, desculpe, não sei se percebi a pergunta. Mas eu até conheço um bocado da Bíblia - ele no fim morre para salvar a Humanidade, não é? -, e não sei se percebo alguma coisa das músicas dos U2, mas gosto das referências bíblicas nas canções, do facto do Bono ser um católico praticante (e, por vezes, angustiado) e da maneira como isso se reflecte nas letras. Também gosto do facto do Bono ser um megalómano pretensioso com queda para o discurso messiânico.

Foda-se, mas andamos a brincar?

Foda-se, aqui no blogue? Claro.

Se não fosse o paneleiro do Judas ter traído Jesus, a esta hora não havia Until the End of the World. Se não fosse Jesus, o maior rocker de todos os tempos, não havia October, Joshua Tree, etc, etc.

Jesus era rocker, Judas era homossexual? Pelos vistos não li a Bíblia assim com tanta atenção. Ah... são parábolas religiosas?

Lá por um parvo,como o João Neves, não dar uma para a caixa, isso não faz parvos todos os cristãos (o que é um bocado diferente de ser católico)

Eu nunca disse que todos os cristãos (sejam católicos, calvinistas, luteranos, baptistas, you name it) são parvos, embora alguns grupos religiosos mais circunscritos estejam lá perto. Aliás, acho que nem usei a palavra parvo em nenhum dos últimos posts. Mas talvez seja mais esclarecedor se eu fizer um diagrama, que ilustra (de forma bem literal) a minha maneira de ver o mundo relativamente a este assunto:

Bom, armando-me em protestante, vamos lá a ter calminha com os comentários, senão não vos «amando» com os Outakes do Achtung.»

Não cheguei sequer a perceber quais foram exactamente os comentários que despertaram este aviso para "ter calminha", e se o "vos" aqui usado é o plural majestático; o que posso prometer é que eles não vão parar e serão tão ocasionais e pueris como têm sido até agora. Já coisas como chamar paneleiro a Judas e roqueiro a Jesus é que nem pensar.

Ah. E os outtakes do Acthung Baby já tenho - são um bocado manhosos, não? Obrigado de qualquer maneira. Um abraço.

(É certo que este e-mail não era assim tão 'hate' como isso, mas que querem - eu só precisava de um pretexto para mostrar aquele belo diagrama.)