Post Chatum
Terry Eagleton escreveu na London Review of Books uma crítica demolidora ao livro God Delusion do cientista religioso-intolerante Richard Dawkins. O texto, que encontrei inicialmente bem recomendado n' A Causa Foi Modificada e no A Origem das Espécies, uniu crentes e indivíduos tolerantes, num daqueles casos de "não li o original, mas tem toda a razão".
Gosto, em geral, das coisas que leio do Richard Dawkins e esperava com alguma curiosidade este livro. Contudo, após algumas leituras da crítica do Eagleton, fui sendo confrontado com alguns dilemas:
1ª Leitura - Li na diagonal e não percebi nada. Mas achei óptima a piada - «The two most deadly texts on the planet, apart perhaps from Donald Rumsfeld’s emails, are the Bible and the Koran». Nesta altura, o único dilema seria se conseguiria perceber o resto do texto.
2ª Leitura - Fiquei a pensar sobre o primeiro parágrafo:
«Imagine someone holding forth on biology whose only knowledge of the subject is the Book of British Birds, and you have a rough idea of what it feels like to read Richard Dawkins on theology.»
A minha primeira reacção foi de arrependimento por ter encomendado o livro na Bulhosa. É claro que não queria ler o Richard Dawkins a falar sobre teologia, tinha pensado que o livro era a perspectiva de um cientista ateu e nervoso sobre a crença em Deus e em sistemas religiosos. Uma vez li um livro teológico de um padre jesuíta (acho que hoje é Cardeal) que pretendia provar a existência de Deus através de longos exercícios de retórica, que me dizem funcionarem melhor em jejum.
Depois percebi que misturar ornitologia, biologia, teologia e Richard Dawkins no mesmo argumento não fazia muito sentido, embora funcionasse em termos de estilo.
3ª Leitura - Terry Eagleton entusiasma-se e fica todo lovey-dovey:
«This, not some super-manufacturing, is what is traditionally meant by the claim that God is Creator. He is what sustains all things in being by his love; and this would still be the case even if the universe had no beginning. To say that he brought it into being ex nihilo is not a measure of how very clever he is, but to suggest that he did it out of love rather than need. »
O parágrafo avança para dizer que a criação do universo é um acto intencional sem necessidade de causa/efeito, podendo ser comparado a uma obra de arte Modernista; e que avança que Deus é um artista movido pelo amor, havendo até a possibilidade de se ter arrependido «some aeons ago». Isto vindo da mesma pessoa que gozava com Dawkins utilizando o argumento - "ahá! mas o Deus em que eu acredito não tem barba nem é um chap (um gajo)!" - ou, dito de outra forma, o argumento contra a antropomorfização de Deus.
Fui comprar o livro.
Ainda estou a meio, mas posso avançar que Richard Dawkins oscila entre o louvável, o engraçado e o idiota. O louvável, pela relativa coragem em pôr em causa valores tão institucionalizados em tempos perigosos para aqueles que atacam a religião, e por manter um compromisso com a verdade e a divulgação científica; o engraçado, porque o texto às vezes tem piada pela mordacidade ou pelo nível de histerismo que atinge; e o idiota, porque Dawkins abraça sofregamente vários argumentos e desmultiplica-se em campos onde surge mais exposto a críticas, que põem em causa os pontos mais fortes do livro, indo mesmo por vezes, não sei se por ignorância, omissão ou malícia, ao encontro do chamado Panfletarismo Mooreano (v. Michael Moore).
Para uma reunião de discussões mais sérias, ver aqui:
http://scientiaestpotentia.blogspot.com/2006/10/eagleton-fallout-roundup.html
Gosto, em geral, das coisas que leio do Richard Dawkins e esperava com alguma curiosidade este livro. Contudo, após algumas leituras da crítica do Eagleton, fui sendo confrontado com alguns dilemas:
1ª Leitura - Li na diagonal e não percebi nada. Mas achei óptima a piada - «The two most deadly texts on the planet, apart perhaps from Donald Rumsfeld’s emails, are the Bible and the Koran». Nesta altura, o único dilema seria se conseguiria perceber o resto do texto.
2ª Leitura - Fiquei a pensar sobre o primeiro parágrafo:
«Imagine someone holding forth on biology whose only knowledge of the subject is the Book of British Birds, and you have a rough idea of what it feels like to read Richard Dawkins on theology.»
A minha primeira reacção foi de arrependimento por ter encomendado o livro na Bulhosa. É claro que não queria ler o Richard Dawkins a falar sobre teologia, tinha pensado que o livro era a perspectiva de um cientista ateu e nervoso sobre a crença em Deus e em sistemas religiosos. Uma vez li um livro teológico de um padre jesuíta (acho que hoje é Cardeal) que pretendia provar a existência de Deus através de longos exercícios de retórica, que me dizem funcionarem melhor em jejum.
Depois percebi que misturar ornitologia, biologia, teologia e Richard Dawkins no mesmo argumento não fazia muito sentido, embora funcionasse em termos de estilo.
3ª Leitura - Terry Eagleton entusiasma-se e fica todo lovey-dovey:
«This, not some super-manufacturing, is what is traditionally meant by the claim that God is Creator. He is what sustains all things in being by his love; and this would still be the case even if the universe had no beginning. To say that he brought it into being ex nihilo is not a measure of how very clever he is, but to suggest that he did it out of love rather than need. »
O parágrafo avança para dizer que a criação do universo é um acto intencional sem necessidade de causa/efeito, podendo ser comparado a uma obra de arte Modernista; e que avança que Deus é um artista movido pelo amor, havendo até a possibilidade de se ter arrependido «some aeons ago». Isto vindo da mesma pessoa que gozava com Dawkins utilizando o argumento - "ahá! mas o Deus em que eu acredito não tem barba nem é um chap (um gajo)!" - ou, dito de outra forma, o argumento contra a antropomorfização de Deus.
Fui comprar o livro.
Ainda estou a meio, mas posso avançar que Richard Dawkins oscila entre o louvável, o engraçado e o idiota. O louvável, pela relativa coragem em pôr em causa valores tão institucionalizados em tempos perigosos para aqueles que atacam a religião, e por manter um compromisso com a verdade e a divulgação científica; o engraçado, porque o texto às vezes tem piada pela mordacidade ou pelo nível de histerismo que atinge; e o idiota, porque Dawkins abraça sofregamente vários argumentos e desmultiplica-se em campos onde surge mais exposto a críticas, que põem em causa os pontos mais fortes do livro, indo mesmo por vezes, não sei se por ignorância, omissão ou malícia, ao encontro do chamado Panfletarismo Mooreano (v. Michael Moore).
Para uma reunião de discussões mais sérias, ver aqui:
http://scientiaestpotentia.blogspot.com/2006/10/eagleton-fallout-roundup.html
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