Clube de leitura revisitado: reviver o passado nos clubes de leitura?* (Parte I)
*mais uma contribuição da Catarina, a correspondente não-oficial deste blogue em Londres. Desta vez volta-se à grande questão cósmica que atormenta a Catarina desde sempre e que envolve a busca pela leitura em clubes denominados clubes de leitura. Enjoy.
Era suposto ter-me curado da minha obsessão de encontrar o clube de leitura ideal. Mas não pude resistir. Estava na livraria do meu bairro londrino, quando vi o letreiro que anunciava a próxima reunião do grupo local para debater "Washington Square" de Henry James. Era um livro que não tinha lido de um autor que eu gosto e então pensei: Por que não?
"As muitas razões porque não... serão expostas a seu tempo", como poderia ter dito o próprio James, no seu tom sóbrio e extremamente objectivo.
Primeiro é preciso que vos conte a história do livro em poucas de linhas. Nova Iorque em meados do século XIX. Catherine Sloper é uma jovem herdeira que é descrita como pouco interessante, mas com um óptimo rendimento anual. O pai é um médico viúvo, astuto e obstinado, que cedo se apercebe que ela está a ser alvo do charme de Morris Townsend: bem-parecido, inteligente, manipulador, desonesto e cruel.
A rapariga apaixona-se, ajudada por uma tia que sucumbe de uma maneira platónica à presença cativante de Morris. O pai opõe-se e tenta investigar o carácter do pretendente à filha, apurando que ele não tem um chavo, não trabalha, não quer trabalhar e a sua honra deixa muito a desejar. Apesar de não poder impedir Catherine de casar com Townsend, o médico deserda-a, apesar dela ser uma mulher rica por herança da mãe.
Sem o dinheiro do pai, Morris rompe o noivado com Catherine que enterra as suas emoções e torna-se uma solteirona resignada. Estamos a falar de traição, de teimosia, do facto das pessoas não mudarem, dos constrangimentos sociais e familiares em Manhattan no século XIX.
Voltando a Greenwich, 2006. O grupo de leitura reuniu-se no café da livraria, com alguns empregados destinados a servirem de moderadores do debate e oferecer vinho aos participantes. "Washington Square" deve ser uma obra muito popular porque apareceram 17 pessoas para o encontro, algumas pela primeira vez.
Um sub-grupo eram senhoras bem compostas e bem educadas, vestidas com bom senso, mas com um toque de excentricidade, uma das quais trouxe uma manta para colocar sobre as pernas, não fosse ter frio, num afã de previdência. Outra tinha no seu colo um cão castanho da raça "salsicha", perna curta e orelhas compridas e uma expressão de leve espanto. De qualquer modo é uma personagem com que não nos vamos preocupar porque dormiu durante quase todo o tempo e não ladrou nenhuma opinião. Será que prefere Jane Austen?
Dois homens de fato e gravata que não estavam juntos pareciam peixes fora de água. Um deles admitiu não perceber nada de livros e literatura. Talvez tenha sido atraído pelo rácio esmagador de seis mulheres para um homem?
Uma possível romântica tipo "Bridget Jones" loura e bonitinha, com os óculos empinados no nariz parecia-me a pessoa indicada para namorar com esse homem, pensei com a minha tendência casamenteira quase semelhante à tia Lavinia do livro, que é cómica, mas irritante.
Era suposto ter-me curado da minha obsessão de encontrar o clube de leitura ideal. Mas não pude resistir. Estava na livraria do meu bairro londrino, quando vi o letreiro que anunciava a próxima reunião do grupo local para debater "Washington Square" de Henry James. Era um livro que não tinha lido de um autor que eu gosto e então pensei: Por que não?
"As muitas razões porque não... serão expostas a seu tempo", como poderia ter dito o próprio James, no seu tom sóbrio e extremamente objectivo.
Primeiro é preciso que vos conte a história do livro em poucas de linhas. Nova Iorque em meados do século XIX. Catherine Sloper é uma jovem herdeira que é descrita como pouco interessante, mas com um óptimo rendimento anual. O pai é um médico viúvo, astuto e obstinado, que cedo se apercebe que ela está a ser alvo do charme de Morris Townsend: bem-parecido, inteligente, manipulador, desonesto e cruel.
A rapariga apaixona-se, ajudada por uma tia que sucumbe de uma maneira platónica à presença cativante de Morris. O pai opõe-se e tenta investigar o carácter do pretendente à filha, apurando que ele não tem um chavo, não trabalha, não quer trabalhar e a sua honra deixa muito a desejar. Apesar de não poder impedir Catherine de casar com Townsend, o médico deserda-a, apesar dela ser uma mulher rica por herança da mãe.
Sem o dinheiro do pai, Morris rompe o noivado com Catherine que enterra as suas emoções e torna-se uma solteirona resignada. Estamos a falar de traição, de teimosia, do facto das pessoas não mudarem, dos constrangimentos sociais e familiares em Manhattan no século XIX.
Voltando a Greenwich, 2006. O grupo de leitura reuniu-se no café da livraria, com alguns empregados destinados a servirem de moderadores do debate e oferecer vinho aos participantes. "Washington Square" deve ser uma obra muito popular porque apareceram 17 pessoas para o encontro, algumas pela primeira vez.
Um sub-grupo eram senhoras bem compostas e bem educadas, vestidas com bom senso, mas com um toque de excentricidade, uma das quais trouxe uma manta para colocar sobre as pernas, não fosse ter frio, num afã de previdência. Outra tinha no seu colo um cão castanho da raça "salsicha", perna curta e orelhas compridas e uma expressão de leve espanto. De qualquer modo é uma personagem com que não nos vamos preocupar porque dormiu durante quase todo o tempo e não ladrou nenhuma opinião. Será que prefere Jane Austen?
Dois homens de fato e gravata que não estavam juntos pareciam peixes fora de água. Um deles admitiu não perceber nada de livros e literatura. Talvez tenha sido atraído pelo rácio esmagador de seis mulheres para um homem?
Uma possível romântica tipo "Bridget Jones" loura e bonitinha, com os óculos empinados no nariz parecia-me a pessoa indicada para namorar com esse homem, pensei com a minha tendência casamenteira quase semelhante à tia Lavinia do livro, que é cómica, mas irritante.
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