sexta-feira, abril 27, 2007

O Grande Desamor ♪ ("En Gallop" - Joanna Newsom)

Há coisa de um ano escrevi aqui sobre o Grande Amor. Mantenho tudo o que disse na altura, embora tenha reparado que usei a palavra "pequeninas", o que me deixa um pouco incomodado.
Em geral, e se interessar a alguém, continuo a acreditar. Talvez mais cínico, mais cansado, mais ressacado, mas ainda acredito. Sobre o Grande Desamor, tenho dúvidas. Não é difícil definir um desamor - é um amor que não resulta. Já um Grande Desamor é um amor que não pode resultar e que nos atormenta para a vida. É insidioso e imprevisível nas suas manifestações, fatal nas vontades que desperta e um desperdício de tempo e músicas com acordes menores.

Deixar de amar alguém é triste, apercebermo-nos que estamos perante um Grande Desamor é trágico. Compreender que afinal um Grande Desamor não o é – é uma merda.

O Grande Desamor não é uma rejeição, mas sim uma constatação de uma impossibilidade. Uma impossibilidade de uma concretização que pode ser tão irracional como a paixão. Que não obsta a outros tipos de grandezas e felicidades amorosas, sobretudo quando o aceitamos e o guardamos com o respeito que nos merece. Mas descobrir que um Grande Desamor é falso, pode ser tão perturbador como perder um Grande Amor.

O Grande Desamor auto-justifica-se literalmente. Não é para ser. No entanto, se percebemos que fomos enganados em aceitar algo que não era o que parecia não poder ser; só nos resta um enorme vazio. Um vazio de desamor, é verdade, mas um vazio de algo que fazia parte de nós e, não nos completando, nos dava um sentido de verdade. E quando essa verdade se assume mentira, revela-se ainda maior o equívoco. Não é uma libertação, é uma humilhação. E ali ficamos com cara de parvos a pensar: “por isto?”. E pomos a tocar mais uma música com acordes menores.
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