quarta-feira, julho 30, 2008

A Verdadeira Verdade Inconveniente

Tenho reparado que a maioria dos anúncios televisivos dirigidos ao mercado feminino, ou fazem propaganda a champôs que revitalizam e devolvem o brilho ao cabelo, ou a iogurtes que resolvem a prisão de ventre.

Assim, e de acordo com a Publicidade, que por sua vez se baseia em estudos de mercado altamente científicos, parece-me ser claro que as mulheres de hoje enfrentam dois terríveis flagelos: cabelos estragados e obstipação.

Dia a dia tomamos conhecimento de descobertas científicas verdadeiramente irrelevantes. Para quando um esforço sério dirigido para a construção de um futuro em que mulheres de cabeleira lustrosa e esvoaçante passem a arrear o calhau de forma regular? Alguém me explica estas merdas?

terça-feira, julho 29, 2008

Soulbizness - Collectables EP; amanhã, na Fnac



01. Oh Sugar
02. TMHSR (Teenage Mutant High School Rockers)

03. Not the Man

04. Mouthful

Soulbizness - MySpace

Terei, mais uma vez, de me auto-citar sobre este assunto.

sexta-feira, julho 25, 2008

Eternus 9

quinta-feira, julho 24, 2008

Batman e Trincadeira

Depois de um monocasta Trincadeira Cortes de Cima 2004, que recomendo, não tenho outra opção senão ir ver o novo Batman na sessão das 00:25. Tenho para cima de 15 Graphic Novels do Batman, e mais de 74 Bds (versões brasileiras, mesmo depois de várias terem ido para o lixo, cortesia da minha mãe) do Cavaleiro das Trevas.

Poderia falar-vos de Frank Miller, mas depois dos 300 e de Sin City qualquer idiota sabe quem é Frank Miller. E, falando em Banda Desenhada, tenho um edição do Eternus 9 autografada e dedicada pelo Victor Mesquita, aceito propostas - mínimo, dez mil euros. Em relação às do Batman, tenciono ficar com elas. Boa noite.

quarta-feira, julho 16, 2008

A verdade

é que gostei de The National, era isso que queria dizer. Se quisesse ouvir o disco dos MGMT numa tenda abafada teria ficado em casa a ouvir o disco dos MGMT numa tenda abafada. Também é verdade que se tivesse escrito que a forma e a substância são indivisíveis na sua divisibilidade, não haveria grande diferença, e continuaria a ser igualmente difícil comprar uma cerveja no Optimus Alive.

segunda-feira, julho 14, 2008

Optimus Alive ou Não é possível ter grandes pretensões a ser 'hip' quando se gosta de U2

Terminadas as duas primeiras canções do pop boémio dos MGMT, vi-me compelido a deixar para trás o público pseudo-brookliniano, onde se viam alguns seres humanos de calças justas de padrão zebra, e abandonar a tenda desenxabida em direcção ao palco principal. Ainda que parte da morosidade pungente dos The National se perdesse no recinto pouco inspirado no Passeio Marítimo de Algés, que lembra um centro comercial mal desenhado, voltei a perceber que talvez não seja uma pessoa fixe e que a forma e a substância são divisíveis na sua indivisibilidade.

segunda-feira, julho 07, 2008

'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

É, sem dúvida, uma das frases mais significativas de Bruno Aleixo, o Ewok coimbrão.



Estimo que num dia normal me depare, em média, com pelo menos quinze oportunidades que justifiquem plenamente a sua utilização.

'Ontem devo ter comido algo estragado'.
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'Vou de férias para o Sul de Espanha.'
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'Ontem à noite o puto não se calava'.
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'Vi um filme espectacular no cinema'.
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'Desde que comecei a vir de bicicleta para o trabalho sinto-me muito mais saudável'.
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'Este fim-de-semana a ver se vou à praia.'
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'Quando era pequeno o meu pai arreava-me forte com o cinto'.
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'Tenho um casamento a meio de Agosto.'
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'Ontem gostei imenso do Prós e Contras.'
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'Tive de pagar extra para alterar a data do meu voo de regresso'.
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'O meu computador está estragado'.
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'Estive a manhã toda nas Finanças por causa dos recibos verdes'.
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'Nunca li nada do Saramago.'
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'A minha banda vai dar um concerto este Sábado'.
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

'Nunca percebi bem se o sinal que diz Teatro Armando Cortez nos intervalos do Prós e Contras é real ou um efeito especial.'
'E então? Não tenho nada a ver com isso.'

quinta-feira, julho 03, 2008

Dou-vos tudo

terça-feira, julho 01, 2008

Eu, o Bon Iver, e uma cabana ♪



Não há nada de mal em fazer música a pensar em anúncios de empresas de telecomunicações e graus de toque-de-telemovelicidade. Como não há nada de mal em proclamar a plasticidade superficial de uns Cut Copy ou de uns Justice, como uma espécie de advento musical carregado de simbologia profunda. Mas não chega.

Assim, é reconfortante saber que, algures no mundo, existem homens que, no início do Inverno, decidem ir para uma cabana na montanha e, pelo caminho, compor um dos melhores álbuns dos anos 00.

Um álbum daqueles onde alguns temas se sentem confortáveis com o epíteto genial, ao mesmo tempo que se apresenta uma série de dificuldades para os críticos mais afectados que queiram distinguir uma canção que seja um "clássico instantâneo".


Este é For Emma, Forever Ago, de Bon Iver.

Bon Iver, aliás Justin Vernon, um rapaz do Midwest norte-americano inspirado por aquela série do médico que vai para o Alaska, abandona a banda indie a que pertence mais ou menos ao mesmo tempo que acaba a relação com a namorada, e decide passar uns tempos na cabana do pai no Wisconsin. Por que não escolheu ir passar uma semana óbvia a Cancun, nunca saberemos, mas estamos agradecidos. São quatro meses a machadar e a escrever música.


All of his personal trouble, lack of perspective, heartache, longing, love, loss and guilt that had been stock piled over the course of the past six years, was suddenly purged into the form of song. The end result is, For Emma, Forever Ago, a nine-song album.

Os primeiros dias passam ao som do escorrido "Flume", que anuncia gelidamente I am my mother's only one / It's enough, que é outra maneira de dizer "ainda bem que sou o único no mundo a beneficiar desta combinação genética, não ando nada contente". Mesmo que seja um tema a antever momentos bons, não deixa de evocar lugares comuns da chamada folk em acústica, ainda que através de águas sinuosas. Felizmente, não é indicador do que vem a seguir.

Acordamos depois com os primeiros raios de genialidade através dos falsetes assombrados de "Lump Sum", onde saímos pela cabana fora com Bon Iver e encontramos um Inverno cheio de sentimentos contraditórios, num tema inteligente e que indicia estarmos na presença de um "génio na cabana". É difícil não pensar em Jeff Buckley. São pesadelos semelhantes, mas com muito menos distorção.


Passam umas semanas e Bon Iver parece surpreender-nos com boas novas. No entanto, a aparente acessibilidade reconfortante do rádio-amigável Skinny Love esconde o desabrochar de uma série de cicatrizes. Who will love you? Who will fight? Who will fall far behind?. Não se vislumbra sequer uma fisionomia de resposta.

Someday my pain, someday my pain / Will mark you. Somos despertados a meio de um pesadelo invernoso por "Wolves (Act I and II)". Assombrados por uivos, with the wild wolves around you / in the morning, I'll call you, é tempo de atribuir culpas, de largar acusações, de tentar perceber what might have been lost. Não há confronto sem evocação. A explosão musical fogo-de-artificiosa nos momentos finais é, ao mesmo tempo, libertadora e pungente.

Depois do onirismo, a fria realidade. Descemos vertiginosamente Bike down... down to the downtown / Down to the lockdown... boards, nails lye around de encontro à violência deste tema justamente denominado - "Blindsided". No caminho gélido de uma descida que, na "linha aprendida", vai ao encontro de uma pergunta que não necessita de verdadeira resposta: Would you really rush out for me now?

No confronto que se segue, com "Creature Fear", esbarramos em choque frontal com a admissão, ainda que a indiciar uma certa lamechice, de I was lost but your fool / Was a long visit wrong?, compensada pela agressividade do refrão. Parece que Bon Iver se começa a fartar de sentir pena de si mesmo, pontuando a música com arrancadas em força que parecem caminhar para um qualquer tipo de redenção. São boas notícias que nos traz o Inverno do Wisconsin e que segue imediatamente para o instrumental apropriado de "Team".

O calor começa a degelar o Inverno, e com ele aparece "For Emma", que com "Lump Sum" e "Blindsided" é um dos momentos mais fortes deste álbum. So apropos: / Saw death on a sunny snow seriam uns dos melhores versos de abertura de sempre, se não fossem abafados pelos excelentes sopros, sem dúvida gravados posteriormente, mas que indubitavelmente já retumbavam na cabeça entrapada na cabana wisconsiana de Bon Iver, aliás, Justin Vernon.

Há uma resignação quase divertida nas linhas With all your lies / You're still very lovable, como sabe qualquer pessoa que já se tenha cruzado com uma mentirosa compulsiva, adorável mas perigosa. E não podemos fazer nada para ignorar a dimensão do medo, mascarada com a progressão optimista do tema que se cruza connosco na sequência "...my knees are cold / running home / running home".

No final, quando saímos finalmente da cabana, ao som de "re:Stacks", podemos procurar, mas não encontramos qualquer tipo de catarse. Apenas uma descoberta que pende num excelente jogo lirico-melódico, iniciada por uma referência a Qumran, e que culmina neste:

This is not the sound of a new man or crispy realization
It's the sound of the unlocking and the lift away
Your love will be
Safe with me

É aqui que Justin Vernon nos lembra que os momentos de redenção raramente são pontos de encerramento. São, isso sim, momentos sisificos de recomeço e de novas hermenêuticas. E que estas memórias, por mais marcantes ou dolorosas que sejam, não se esquecem. Guardam-se em segurança. Até sempre.

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