sábado, outubro 30, 2004

Muito Bom

Alexandre Soares Silva escreve sobre o controverso Superman, de Gus Van Sant (2004).


Quando Fidel percebeu mal o objectivo do jogo das cadeiras




Bush dá a sua opinião sobre este blog


London Calling!

Como disse o outro: shoot for the fucking stars.


domingo, outubro 24, 2004

Ode à China (Beijing Blues)*

*(por Ivgeny Ivgeny)

Oh-Ah
Vem aí a Chin-à!

A China anda a comprar
O défice dos Estados Unidos,
A China só quer mostrar
Que estamos todos fodidos

Povo que gosta de ópio,
Povo que não tem sonetos,
Irá marchar sobre Tóquio
E fazer amor com os esqueletos

Beijing Blues Beijing Blues

Mesmo que mates um chinês,
Não salvas a economia mundial;
Rapidamente aparecem mais três
Para com ela fazer o sexo anal

Beijing Moose Beijing Shoes
Oh-Ah Vem aí a Chin-à!

Ongues de direitos humanos,
Ululam em tremendo alvoroço;
Mas lá para os orientes profanos
Ninguém sabe o que é o tremoço

Beijing Blues
Beijing Shoes
Beijing Blues
I liek the Moose!

(2004)

Ivgeny Ivgeny, nascido em 1901 nos arredores de Moscovo, é o realizador russo mais conhecido da corrente niilista. Além do cinema distinguiu-se nas mais variadas áreas, desde a pintura à literatura, não sendo reconhecido mundialmente em nenhuma delas. É colaborador esporádico deste blog e assiduamente recusado por qualquer espaço literário digno de respeito.

quinta-feira, outubro 21, 2004

Cá estamos cá estamos

geopolítica econometrias malaca Carlota Pérez neoliberalismo Joe dos Santos breaking of nations outsourcing china software indiano balança de pagamentos david ricardo investment banking corporate trading Afonso Costa kristangs ongues schumpeter fronteira geográfica estados exíguos metanacionais multinacionais internacionais globais matança do porco trópicos na Europa tempo tríbulo franquias etc etc etc etc etc etc etc etc

Muita coisa para poucos dias, poucos dias para tanto tempo.

terça-feira, outubro 19, 2004

História verídica da QC com moral no fim

Fontes exclusivamente mútuas revelam ao Achtung o que se anda a passar realmente na Quinta das Celebridades. Ao que parece o Alexandre Frota - porno superstar de falinhas mansas- está a começar a entrar num estado de progressiva demência mental, causado por privação de sexo. Durante os primeiros dias Alex bem tentou, através da conhecida táctica - «eu respeito e estou interessado nos teus sentimentos» - levar alguma das concorrentes para a sua cama (e manter José Castelo Branco longe dela). A táctica não tem dado fruto, e os primeiros sinais de um comportamento errático, ou, no mínimo, bizarro, por parte do brasileiro começaram há dois dias. Logo pela manhã Alexandre Frota levantou-se, dirigiu-se ao quarto das mulheres, puxou de um banquinho e tentou ordenhar Cinha Jardim. A «tia» não achou muito graça à «brincadeira», e confrontou-o logo com a seguinte frase:
-Então o que é isto?! Quem é que você pensa que é, o primeiro-ministro?!
O actor de filmes pornográficos ficou bastante incomodado, mas o seu envergonhado «pô cara...» não chegou para acalmar Cinha. Pouco tempo depois «Alex» foi surpreendido, por Pedro Reis, enquanto fazia amor com a luva de pelica de José Castelo Branco. Ao que parece a luva era a da mão esquerda, e consta que JCB não ficou nada satisfeito. As coisas não melhoraram quando Frota perguntou a Avelino Torres:
- O prefeito ficaria excitado se me visse vestido de árbitro?».
O Presidente da Câmara de Marco de Canaveses perdeu a cabeça e após ter agredido o actor com Pedro Ramos e Ramos, disse-lhe furioso:
- Isto é para aprenderes a não me chamares «prefeito»!
Quem se voluntariou para ajudar o actor nesta fase díficil da sua vida foram as vacas da quinta, auxílio que o actor rejeitou de forma veemente:
-Para isso ia para a cama com as mulheres que eles puseram aqui comigo.

Sim, isto não faz sentido, mas falamos de um homem à beira da demência total.

Ah, e a moral do post: nunca parem de foder.

Falem baixo por favor


Pra que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor.
(Vinicius de Moraes, A Felicidade)

domingo, outubro 17, 2004

Amanhã de manhã

Começa o CGI. Não sei o que esperar, mas as expectativas são altas. Não sei o que se vai passar, ou não passar, neste blog durante o CGI. Nem sei bem o que se vai passar no CGI, mas ouvi dizer que os croquetes são de borla.
Entretanto, era simpático se continuassem (alguém?) a passar por aqui, só para ver se continua tudo na mesma. Até pode ser que haja alguma surpresa... Tipo, fotografias de mulheres bonitas ou proto-textos humorísticos que envolvam sexo! Ah, já fiz isso? Pois, pá, então não sei. Então não sei. Pode ser que gostem disso lá no CGI...

A tristeza de domingo à tarde

Se, por um lado,

Marilyn Monroe teve affair com Joan Crawford
(...)
A cassete revela que a actriz não gostou da experiência e descreve o momento intímo em detalhes, explicando como ela e Joan Crawford tiveram sexo, disse Matthew Smith.
As cassetes também revelam o arrependimento de Marylin por ter casado com o seu segundo marido, o jogador de basebol Joe DiMaggio, por considerar que ele não era muito interessante e não era «um bom amante».


por outro,

A Rádio Simba, uma emissora do Uganda, foi multada este fim-de-semana em cerca de 800 euros e obrigada a pedir desculpas à sociedade por ter transmitido um programa durante o qual entrevistou homossexuais.

Mas, e se a rádio Simba - convenhamos que o nome é «feliz» demais - tivesse passado um programa que relatasse a experiência lésbica de Monroe-Crawford? Também teria sido multada? Ou, as autoridades diriam (à Joey do Friends): «Nice...»? São perguntas pertinentes para serem colocadas num domingo à tarde, ao mesmo tempo que Luís Delgado pede que não se condenem as pessoas por terem opiniões. E, porque é Domingo, não nos esqueçamos do mais provável: a Marilyn Monroe nunca ter dado uma queca decente na vida*, o jornalista do Diário Digital ter pesadelos com a dúvida Marilyn/Marylin, ou a inevitável passagem de um filme tipo Pestinha 3 na televisão.

*Mesmo os leitores democratas saberão que JFK tinha graves problemas de coluna, resultantes de uma infância inteira dedicada ao jogo da macaca

sábado, outubro 16, 2004

Who's the boss?


Well, there’s good news and bad news. The bad news is that Neil will be taking over both branches, and some of you will lose your jobs. Those of you who are kept on will have to relocate to Swindon, if you wanna stay. I know, gutting. On a more positive note, the good news is, I’ve been promoted, so....every cloud. You’re still thinking about the bad news aren’t you?
[Ricky Gervais, The Office]

sexta-feira, outubro 15, 2004

I've seen the present and it was dumb

A 2: mostra, por volta da 1:30 da manhã, grupos de gente numerada, pintada, semi-despida, e com péssima noção de ritmo; a ser «convidada» a fazer tristes figuras e a acatar insultos de forma gratuita. Isto, ao que percebo, passa-se na Escola Superior de Comunicação Social, e está tudo com um ar divertídissimo.

Imagino haver outras pessoas que também vêm os futuros «comunicadores» de Portugal nestas figuras com grande satisfação. Aliás, olhando para isto, não me parece que nenhum futuro governo se precise de preocupar com «Centrais de Comunicação».

O próximo José Alberto Carvalho também não resiste a uma boa mousse

quinta-feira, outubro 14, 2004

Zivot je cudo?

A Vida é Um Milagre não é um filme mau, ou melhor, não é um mau filme, mas isso não chega para ser um filme bom do Kusturica. Passo a explicar: o Kusturica é o gajo que fez o Underground - que é dos melhores filmes que vi na minha (curta) vida; ao Kusturica já se pode exigir mais, e é por isso que este milagre não é nada de especial. Não deixa de ser engraçado, no entanto, que o problema maior de Zivot je Cudo é ser demasiado "kusturiquiano".

O Kusturica, como qualquer pessoa que consiga ler esta sequência de letras - WOIAJWD - pode constatar, tem uma maneira de conceber o cinema, e de filmar, muito própria. Não vale a pena estar para aqui a enumerar exaustivamente as características, vocês sabem - alguns até melhor do que eu - que estamos a falar do hiper-realismo, da música cigano-frenética que vai acompanhando os personagens, ou mesmo do Fellini dos Balcãs, como lhe chamam alguns críticos pouco inspirados, entre outras coisas.

Continuando, e, já agora, indo directamente à questão: há uma evolução - ou mesmo uma contínua revolução, se os esquerdotes preferirem - na obra do Kusturica. Mesmo que se mantenha um estilo, este sofre sempre reinvenções, cresce, amadurece, torna-se mais consistente. Assim, antes de 1995 a obra do sérvio só podia caminhar para esse magnífico Underground (a que eu tive acesso imediato, porque, felizmente, tenho uma tia cinéfila que em vez de me dar dinheiro para gelados me levava ao cinema). Depois de ver Underground descobri (e, na altura, sem Internet!) haver When Father Was Away on Bussiness e Time of The Gypsies que, juntando o Arizona Dream, tornavam um Underground inevitável. Argumentarão alguns, bem-intencionados, que Arizona Dream é uma poia de filme; não estando muito longe da verdade. Mas, permitam-me, o filme vale a pena por três razões: cenas do ponto de vista cinematográfico que são extremamente interessantes, Vincent Gallo a fazer a imitação mais hilariante da história do cinema e Jerry Lewis a vender cadillacs.

Tudo isto leva-nos, invariavelmente, à pergunta: por que é que eu insisto em afastar-me da questão? Que é, então o que é que se passa com A Vida é um Milagre? E, já agora, se não irei falar do Gato Preto, Gato Branco -, inegavelmente, o favorito da populaça. Bom, o Gato Preto, Gato Branco é um óptimo filme. Consegue ser a ressaca perfeita (e extremamente cómica) do Underground e acrescenta o facto de ter os personagens mais engraçados de sempre do universo do realizador, incluindo - o meu favorito - um velho cigano desdentado, com a carreira de rodas mais cool de todos os tempos e uma obsessão pelo Casablanca.

Agora que já ninguém está a ler, porque ninguém lê posts com mais de dez linhas - toda a gente sabe isso - eu vou falar dos problemas do A Vida é um Milagre. Começam logo pelo facto do filme ter duas horas e meia que não merece, o que só realça a sua mediocridade enquanto trabalho do Kusturica. A história é boa, mas não está bem esgalhada. Falha, sobretudo, na parte do romance, onde algumas cenas francamente boas não chegam para disfarçar a pouca consistência do resto. A música já começa a ser mais do mesmo, ninguém bom da cabeça vai comprar este CD, se já tiver o Gato Preto, Gato Branco ou o Underground. No meio disto tudo falha outro aspecto crucial: as personagens secundárias não têm muita piada. Se nos filmes anteriores os secundários são importantes para compor a estética, seja com comédia ou narrativas paralelas, neste último filme as coisas não correm lá muito bem. Escapa o presidente da câmara, mas rapidamente lhe limpam o sebo; depois há o assessor dele que é uma espécie de Dadan Karambolo (pitbull... terrier!) mas com metade da piada; o gordo que trabalha nos caminhos-de-ferro é um comic relief muito fraquinho; depois temos os dois actores principais a tentar carregar o filme às costas, quando a historieta de amor se começa a desenrolar, e fica sempre a sensação de algum vazio. Não que eles sejam maus actores - as interpretações são consistentes -, mas não têm estaleca para aguentar sozinhos um universo à la Kusturica.

E já não me apetece falar nos simbolismos, da revisitação dos fantasmas da guerra, das metáforas asininas, das camas voadoras, etc. Dito tudo isto, o filme até nem é mau. É bem melhor do que muita merda que se faz por essa Europa fora e que depois se rotula de Cinema - com maiúscula. Mas, sendo de quem é, este milagre tinha obrigação de ser muito melhor.

Selling out in style


3-0

POLLING - KERRY WINS AGAIN: CNN finds a clear victory for Kerry in their insta-poll, 53 - 39. CBS gives it to Kerry as well: 39 - 25, with 36 calling it a tie. In ABCNews' poll, you get a 42-41 tie, but the poll is slanted toward Republicans, giving Kerry an edge. Critically, independents went for Kerry 42 - 35 percent. If these numbers hold, and the impression solidifies that Kerry won all three debates, Bush's troubles just got a lot worse.
Fonte insuspeita: http://www.andrewsullivan.com/

quarta-feira, outubro 13, 2004

Factos históricos pouco conhecidos (que envolvem, obviamente, sexo)

  • Gengis Khan, quando não estava a conquistar, mutilar, incendiar ou pilhar, vastos territórios de terra, dedicava-se à descoberta e aperfeiçoamento de técnicas sexuais. A sua maior descoberta, ainda hoje reconhecida e utilizada mundialmente: a Khanzana.

  • A verdadeira razão que leva Adolf Hilter a mobilizar um exército gigantesco, invadir a França e, pelo meio, iniciar a Segunda Guerra Mundial, foi tentar reencontrar o seu testículo desaparecido na Grande Guerra de 1914-1918, que suspeitava andar perdido pelas pradarias francesas.

  • Truman, presidente dos Estados Unidos em 1945, apenas lançou as bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki para impressionar uma secretária da Sala Oval, que lhe chamava "picha mole".

  • Estaline só se tornou um ditador cruel e amargo depois de um jantar entre amigos, regado com muita vodka, que terminou abruptamente quando Tzidra Vikukov - amigo desde a meia-infância - lhe disse: «esse bigode dá-te um ar gay».

  • Tito, antes de se tornar presidente da antiga Jugoslávia e ditador não alinhado, era Tita - artista transformista de Belgrado, cujo espectáculo envolvia dois anões lésbicos e um oboísta birmanês.

segunda-feira, outubro 11, 2004

Na piscina com

Os U2, fotografados por Anton Corbijn, na Praia Grande.

Não é pressão, é sugestão, estúpido

O que importa aqui não é a martirização de Marcelo enquanto vítima de um estado censurador e pouco democrático. Não é a palhaçada que o país continua a viver, com um governo que tem a pontaria do Averell Dalton e o timing do Pinilla a rematar à baliza, com audiências no Palácido de Belém e Cavaco Silva agastado com pressões sobre a imprensa. O que importa aqui é o facto de Paes do Amaral ter «sugerido» ao Prof. Marcelo alterar o formato da sua crónica, apenas isso, e não se houve pressão flagrante, censura de «lápis azul», tirania governamental, ou o que lhe quiserem chamar. Os grandes grupos de concentração dos média, o domínio tentacular do grupo PT na área das comunicações em Portugal, e a promiscuidade entre os partidos e as posições de administração de áreas influentes da vida portuguesa, entre outros factores, asseguram que a realidade mediática não está, nem poderia estar, isenta de qualquer tipo de pressão. Por outro lado seria de uma infantilidade extrema pensar que a pressão, quando exercida de forma eficaz, se faz com telefonemas ameaçadores, murros na mesa de administradores ou botas de gesso nas margens do rio Tejo. A pressão faz-se, frequentemente, por sugestões, conselhos, «caixas exclusivas», sondagens encomendadas, agendas, omissões, presentes todos os dias no panorama mediático português.
O cenário (ainda) não é catastrófico, já que as regras do jogo conseguem impedir que, nalguns casos, certos valores sejam comprometidos. No entanto, se parte da imprensa portuguesa não é um deserto de valores jornalísticos, generaliza-se a tendência de nivelização por baixo, que é acompanhada - em certa escala e de forma preocupante - pelas ditas «publicações de referência».
Claro que uma sociedade que olha para as selvajarias do mercado livre como parte de um esquema cósmico-universalista, onde o que importa é celebrar o triunfo do neoliberalismo, nunca conseguirá (por defeito de fabrico) levar estas questões de forma séria. Mesmo que se continue a indignar, a preocupar, a revoltar; a pressão, a verdadeira pressão, só vem de um dos lados.

Up, Up and Away

Christopher Reeve (1952-2004)

Collateral

A imagem tem grão, a câmara problemas de estabilidade, os actores caem, tropeçam, às vezes não acertam à primeira, falam como gente que existe, o Tom Cruise não tem tiques de Tom Cruise. Gosto de realizadores que não têm medo de um grande plano, de usar as teleobjectivas para aquilo que foram feitas: encher o ecrã com a cara do actor, ir para lá daquela polidez fastidiosa que muitas vezes mancha os filmes de Hollywood. Michael Mann não tem medo, Jamie Foxx e Tom Cruise muito menos, com este último a (re)confirmar que não anda nisto do cinema em piloto automático. Ok ok, é só um filme de acção, mas também é cinema - e do bom.

Uma boa razão

Para se gostar de Mário de Carvalho, e de tipos que ainda se deixem irritar com a imbecilidade geral:

- Um dos meus pesadelos - confessou Vitorino, pensativo - é o de assistir a um debate na televisão entre um charlatão bem-falante e um médico gago... No dia seguinte toda a gente começa a dizer que a medicina é uma treta... e a curar-se com picadas de lacrau...
- Estamos entregues à bicharada - rosnou o professor, cavo e rouco. E concluiu, sorumbático, de cabeça pendida:
- A realidade é muito abusadora...
[Mário de Carvalho, Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto]

Em breve, mais considerações sobre a imbecilidade.

Respect


Atenção meus amigos, porque esta senhora, esta senhora (a que não se admite nenhum outro tipo de tratamento menos deferencial), antes de ser a ninfomaníaca mais charmosa da televisão, antes de se tornar o exemplo maior de que a vida - às vezes - pode valer mais a pena depois dos quarenta, antes de começar a assustar homens com uma voracidade sexual capaz de envergonhar um rancho de viúvas negras, passou os anos oitenta a fazer coisas destas:


Porky's (1982), Jack Burton nas Garras do Mandarim (1986) e Mannequin (1987), sem sequer mencionar que em 1984 era a namorada do Mahoney, no primeiro Police Academy. Do Mahoney!
E depois vieram os anos 90, as camisas de flanela, e uns tipos de Seattle que, porque tinham pais alcóolicos e mães prostitutas, resolveram optar pelo óbvio - uma carreira musical, e, já agora, criar um novo estilo de música. Ninguém andava muito divertido, e, o pior de tudo, Kim Cattrall tinha desaparecido. Vitimada, certamente, por alguma urdidura obscura, andou a fazer telefilmes de domingo-à-tarde ou coisas piores que envolviam o Gary Busey. Assim, Kim Cattrall, percebo-o agora, acabou por tornar-se num «elo perdido» entre os delírios infantis pré-sexuais da pré-puberdade e a entrada definitiva na vida adulta*. As consequências podiam ter sido piores, não fosse o colapso da União Soviética em 1991, e a consequente entrada da Rússia e dos antigos satélites socialistas no Elite Model Look of the Year, alterando para sempre a percepção do que pode ser uma miúda com 13 anos.

* altura em que aparece Samantha Jones a espalhar o Sexo pela Cidade.

sexta-feira, outubro 08, 2004

Roma IV - Il Capitano


Il Capitano. O filho da cidade. As mulheres adoram-no, os homens querem ser como ele. A verdadeira penca romana. Francesco Totti é um gajo a que assentam bem alguns lugares comuns, mas os lugares comuns também nunca fizeram mal a ninguém. O que interessa aqui é que o Francé, como lhe chamam os amigos, foi grande responsável por dar ao clube o campeonato que não conseguia desde os anos 50. O que interessa aqui é que o homem só não é um fenómeno futebolístico maior porque não é muito esperto (cospe primeiro e pergunta depois), e porque a Roma que ganhou o campeonato desapareceu definitivamente este ano, afogada em crises financeiras e directivas.
É pena, porque o Totti - quando não anda a dar banho a dinamarqueses - até é um gajo à maneira: é embaixador da UNICEF, publicou livros com as próprias bacoradas para ajudar criancinhas e velhinhos, e casou com uma mulher que bate o baldaquino do Bernini nas curvas. E olhem que não é tão burro como parece, embora não conste que contribue muito para a prosperidade da Feltrinelli. Quando o Totti sair da Roma, o que parece inevitável, a cidade fica amputada de um dos poucos símbolos que não tem perto de 2000 anos, embora algumas das más-línguas digam que tem ar de calhau, o que é mesquinho mas, admitamos, engraçado.
E depois há a questão dos «totti-clones». Eles vagueiam, remansadamente, diariamentente, pelas vias romanas; mimetizam ao pormenor o cabelo, a pose (postura tensa e hirta, nuca inclinada para trás), ostentam o indispensável ar bronco e fazem esforços tremendos para conseguir decorar todos os quatro cânticos (com as suas sete variações) que oferecem a Il Capitano. O que será deles quando já não houver mais Totti em Roma? O que será deles - pelas tetas da mãe loba! - o que será deles...

Here's looking at you kid

O Vasco pediu «reconhecimento pelo conhecimento que anda a proporcionar». O Vasco pede porque foi ele que me emprestou o Casablanca (numa bela edição em DVD, é verdade), e o Animals do Ricky Gervais (esse sim, tarefa complicada para arranjar na capital mundial dos Malucos do Riso), entre outras coisas. Não tenho por costume reconhecer pelo conhecimento - não desde a extinção do dodó - mas neste caso, como é o Vasco, eu abro uma excepção. E, claro, sempre é um bom motivo para pôr mais uma mulher bonita neste blog (o poema é on the house).
Para o Vasco,

(...)
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.
[Vinicius de Moraes, Receita de Mulher]
Versão integral

quinta-feira, outubro 07, 2004

E agora, Marcelo?

Agora é tudo prevísivel. O Moniz está de regresso e faz as pazes com o comentador. O professor assina um novo contracto (ainda mais) milionário, mas recusa-se, por uma questão de princípios, a voltar ao Jornal Nacional de Domingo. A solução? Ser o novo concorrente da Quinta das Celebridades. Mais tempo de antena para o Professor e os portugueses poderão descobrir a faceta rural de Marcelo Rebelo de Sousa (além de politólogo, constitucionalista, comentador, economista, crítico literário, crítico musical, crítico de cricket, analista desportivo e fetichista por Celorico de Basto). Claro que o programa também muda de nome, passa a ser: A Quinta das Celebridades e do Professor. É perfeito.

Alexandre Frota prepara-se intensivamente para a chegada do Professor

Note to self:

-escrever uma opereta em Si bemol sobre as agruras dos apanhadores de alfarroba algarvios
-experimentar gelado de eucalipto
-comprar uma motorizada da Telepizza para dar umas voltas ao fim-de-semana
-deixar de me pesar
-derrubar o Governo, a Presidência da República e a Administração do meu prédio num só dia. À noite ver o Kill Bill 2.
-evitar ir ao ginásio, se não for possível, evitar os balneários do ginásio
-ler todos os volumes de Em Busca do Tempo Perdido, palavra sim palavra não
-nunca mais escrever motorizada

Comunicado Oficial

quarta-feira, outubro 06, 2004

Coming out of the non-gay closet

Ok, tenho de confessar uma coisa. Não vai ser fácil. É o seguinte: eu sou um gajo que nunca viu o Casablanca. Sim, esse Casablanca. O que tem o Bogart, a Ingrid Bergman, e um gajo que faz de um gajo que se chama Victor Laszlo. Eu, cinéfilo de pacotilha que me prezo, portador de informações completamente irrelevantes sobre uma data de filmes que nunca ninguém devia ser obrigado a ver e sabedor de nomes de actores que deviam ser linchados por multidões de feirantes hirsutos mal pegassem num guião, nunca vi o Casablanca. Esse grande clássico de 1942 em que nunca ninguém diz «play it again, Sam» e onde no fim alguém inicia uma «beautiful friendship». Sim, é mesmo o Casablanca, e eu nunca o vi. Mas eu hoje trato disso. A partir de hoje tudo muda. A partir de hoje vou ser um gajo que viu o Casablanca.

Roma III

-Este quarto andava a precisar de um toque feminino.
-Ah! La Belluci...

terça-feira, outubro 05, 2004

Here, here

«Basta! Sofro ao ler essas histórias, fico imaginando Peter Sellers olhando para a janela de Sofia Loren. E eram gênios! Mulheres, mulheres - da próxima vez que um gênio se interessar por vocês, vão para a cama com ele. Esta é a 1a Declaração Internacional dos Direitos do Gênio: Mulher tem que ir para a cama com todo gênio que encontrar. (Não vão ser muitos, no curso de uma vida, acredite.)»
Alexandre Soares Silva, aqui.

E, já agora, gostava de acrescentar que por génio (ou gênio) deve entender-se: aquele que sabe distinguir um Mondrian de um van Doesburg, ou então que numa oração simples não se deve separar o sujeito do predicado. Ou seja, se em vez de o João gosta da Maria, escrevermos o João, gosta da Maria, estamos a condenar o João a uma vida inteira de frustração nas suas relações com o sexo oposto. Traumatizado pela separação injusta do seu predicado tornar-se-ia um farrapo de vida miserável, incapaz de mentir às namoradas, sorvedouro assíduo do Jornal Nacional e sócio fundador do primeiro clube de fãs nacional da Rita Blanco.

Mau demais

Tinga, o profeta, já tinha avisado aquando da sua contratação na época passada: «este Sporting é a minha cara!».

É mesmo muito feio o futebol que aqueles rapazes andam a jogar...


segunda-feira, outubro 04, 2004

O que aconteceria se...

cerca de 100 artistas plásticos tivessem sido convidados para compôr a capa de um álbum musical à sua escolha?

Provocação


Estilo
Utopia

Redundância
E mais, em The Art Rocks.

sábado, outubro 02, 2004

A tradição

Manhãs de sábado: ela passeia o telefone pela casa, oferecendo descrições personalizadas da saída da noite anterior. Uma para cada amiga, todas adaptáveis à pessoa do outro lado da linha - porque as amizadades são sempre diferentes -, o discurso, o fio narrativo, o vocabulário, a acentuação dramática nas expressões, há sempre ligeiras nuances. O constante é ter de dizer em meia-hora o que podia ser resumido a quatro linhas de diálogo (será que as mulheres são abençoadas com algum tipo de capacidade queiroziana de descrição?), mas há aqui um automatismo qualquer que torna todos felizes: elas confirmam que continuam a saber tudo da vida umas das outras - mesmo que tenha acontecido o mesmo que num mês de telenovela brasileira - e eu apanho os pormenores que me interessam e não tenho de perguntar nada.

Happy Birthday - 53

A primeira vez foi aqui

See the west wind move like a lover so
Upon the fields of barley
Feel her body rise when you kiss her mouth
Among the fields of gold
I never made promises lightly
And there have been some that I've broken
But I swear in the days still left
We'll walk in the fields of gold
(Sting, Fields of Gold)

Roma II - Blitzkrieg!

As aventuras de um romântico francês na cidade eterna, ou o que a Alemanha fez à França de 1939 a 1944:

-Ieri sera io ho fatto l'amore con una ragazza tedesca.
-Si? Bellissimo... Ti ha piaciuto?
-No.
-Ma perché?
-Lei me ha fatto sentire come una ragazza.




Roma I

But my letter would never be at an end if I were to try [to] tell a millionth part of the delights of Rome.
Mary Wollstonecraft Shelley, Letter (1819)

Já foi há dois anos.


sexta-feira, outubro 01, 2004

22/11

Faltam 51 dias...


Entretanto, até lá:
-Então, e gostas da nova música dos U2?
Cada vez que alguém me faz esta pergunta, além de um disfarçado sorriso misturado com expectante curiosidade - pela parte do meu interlocutor -, sinto sempre a necessidade de justificar a minha resposta com uma elaborada desconstrução da estrutura composicional do novo single, e justificar assim o meu entusiasmo infantil, que acompanha recurrentemente o lançamento de um álbum de originais dos U2. Um simples "gosto", ou "acho que está muito boa, a música", são manifestamente insuficientes. Ao fundamentalista exige-se sempre a justificação mais bem alicerçada, não há espaço para complacências.
Os U2, e isto é um facto comprovado, nunca mais farão um Zooropa, antecedido por um Achtung Baby e seguido por um Pop. A partir daqui, e o último álbum foi a confirmação, eles deixaram-se dessas coisas de tentar inovar, de tentar incorporar a experimentação no mainstream, reformular a linguagem pop, e essas merdas que as revistas escrevem. Mas não faz mal. A decadência artística pode ser uma fase muito interessante, e, neste caso, parece que sim. Vertigo é um bocado um regresso às origens. Não é punk, nem Ramones - é demasiado limpinho -, mas tem as guitarradas, um refrão para pôr 100 mil pessoas a saltar e um baixo agressivo, para abanar a cabeça à galinácio quando se anda de carro. Os U2 têm sido a 'maior banda de rock do mundo' - em actividade regular -, agora parece que o caminho é ser 'a última grande banda de rock do mundo'. Tipo, The last of the rock stars/When hip hop drove the big cars (Kite, All That You Can't Leave Behind). Alguém tem de mostrar aos putos como é que é.
Ah, e claro, para quem não tenha percebido: eu adoro a nova música. E claro que vou gostar do novo álbum: é U2.

The night is full of holes
There's bullets ripping sky
Of ink, with gold
They twinkle as the boys
Play rock and roll
They know that they can't dance
At least they know
(U2, Vertigo)

Duas coisas

que valem a pena, hoje no Público:

1 - Miguel Sousa Tavares em Esta Gente - (...)A miséria, as desigualdades, o analfabetismo, não explicam tudo e não legitimam nada. Não é o regresso da PIDE ou da ditadura que nos falta ou que iria melhorar o que quer que fosse. O que nos faz falta é a reconstrução de uma elite, que tenha valores, que seja capaz de se bater por eles e que dê o exemplo. Eis uma coisa que a esquerda, amarrada ao Corão marxista-leninista, nunca percebeu. E que a direita transformou no triunfo do dinheiro e da hipocrisia. A morte das elites sempre serviu a emergência dos medíocres. Hoje, serve o "tempo novo", em que triunfa o oportunismo, a boçalidade e a venalidade.(...)

e

2- Eduardo Prado Coelho com O Quiosque e o Telemóvel - (...)Ao meu lado, na mesa do canto, chega uma rapariga de óculos escuros, tatuagem no tornozelo, sandálias presas entre os dedos dos pés. Vem carregada com dois livros pesadíssimos, desses que não cabem nas estantes e têm formato de manuais enciclopédicos: lido o calhamaço, está tudo lido. Um deles, segundo me apercebi, era em inglês e tinha a ver com química. Pousou os livros sobre a mesa claudicante, e pediu uma coca-cola.(...)

Abertura Oficial

"Just as inviting people over forces you to clean up your apartment, writing something that other people will read forces you to think well. So it does matter to have an audience."

Paul Graham, a discorrer sobre a Idade do Ensaio, ou o simples resumo da razão de ser deste blog. E sim, o Bluogh acabou. Faltava-lhe uma coisa muito importante para ser um blog de humor: a piada.
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