sábado, setembro 30, 2006

C

She walked into the room
On the arm of my best friend
I knew whatever happened
Our friendship would end
Chemical reaction, desire at first sight
Mystical attraction, turned out all my lights


[St. Augustine in Hell, Sting]

terça-feira, setembro 26, 2006

The Police

Excerto da autobiografia do Sting - Broken Music (2003) - sobre o momento que precede a primeira vez que toca com o baterista Stewart Copeland, numa casa apalaçada em Mayfair, London W1, 1977. Enquanto Sting tentava a sorte com bandas de jazz, fusão e um filho recém-nascido, Copeland queria apanhar a energia da onda Punk da altura, que sabia ser a única forma de entrar em força no mundo musical.

Esta seria a génese dos The Police, ou os Pólice (como insistem em dizer certas pessoas):

«Even at this very early moment of our relationship, it is clear that there is something going on, some chemistry, some understanding, some recognition, a rapport and a tension between the amphetamine pulse of his kick drum and the shifting, rolling sound of the bass.

It is like two dancers finding a sudden and unexpected harmony in the glide of their steps, or the sexual rhythms of natural lovers, or the synchronized strokes of a rowing team in the flow of a fast river. Such rapport is not common, and I realize very quickly that this guy is the most exciting drummer I've ever worked with, almost too exciting.

(...)

But I don't want to sing tuneless, disaffected rants. I sing tender love songs. This is what I'm good at. But I also realize that there's an opportunity in the chaos, and that I am perfectly able to morph, adapting what I do to suit the current climate without necessarily compromising the integrity of my songs. I can establish some sort of position, some kind of defensible space, and when the dust has settled, run my true colours up the mast.»

[Sting, Broken Music]


A tocar, um excelente exemplo da energia singular dos The Police e uma tentativa sincera do Sting de transformar uma «tender love song» num tema punk.

segunda-feira, setembro 25, 2006

This is, like, extremely cool stuff


Aplicação em Flash (clicar na imagem). Até dá para arrancar as páginas, mas não vejo razão para extremismos.

quarta-feira, setembro 20, 2006

O que têm de coincidente o Ice-T, os New Radicals e o Brompton Oratory



Um amigo contou-me que há umas semanas o Conan O'Brien perguntou ao Ice-T o que é que ele andava a ouvir. O rapper terá dito qualquer coisa como:

- You won't believe this, but the other day I was driving somewhere and I was playing the New Radicals album really loud.

O meu amigo contou-me a história porque lá para Julho, quando fui a casa dele, cheguei e disse-lhe:

- Nem vais acreditar, mas vim no carro a ouvir o álbum dos New Radicals aos berros. (
está documentado)

Eu acredito em coincidências. Acredito em bonitas e felizes coincidências, em coincidências de merda, em coincidências inacreditáveis e em coincidências convincentes e coincidentes. Não percebo as pessoas que dizem que não há coincidências e exclamam «oh, porque tudo acontece por uma razão!»; como se um acontecimento e a sua razão fossem coisas estreitamente relacionadas. E, mesmo que não acreditasse em coincidências, a história que contei acima nunca poderia ser mais do que uma coincidência, não obstante o facto de ter acontecido por alguma razão. Ergo, bitch, acabo de provar ao mundo que existem mesmo coincidências.


Há qualquer coisa de inconsistente na riqueza eclética do álbum de estreia (e de fim) dos New Radicals. Alguma parolice, até, no meio de grandes momentos líricos e instrumentais que pontuam nesse Maybe You've Been Brainwashed Too (1997). Já a berraria contra a máquina corporativa americana, por exemplo, seria confrangedora se não tivesse piada. As referência às drogas, por exemplo, seriam infantis se não parecessem descomplexadas. A banalidade de algumas metáforas, por exemplo, seria BonJoviana, se não fosse arrancada a ferros.

Mas o que se torna evidente, e daí a redenção do álbum, é que toda a razão de ser do disco é uma miúda. Este Maybe You've Been Brainwashed Too (o título é só para disfarçar) só pode ser por causa de, e para, uma miúda gira, impulsiva, insegura, intensa, mais esperta do que ele e, aposto, sexualmente voraz - my type of gal. Ele não está muito feliz, acha que tem de lhe dizer qualquer coisa, não sabe bem o quê, e por isso resolve gravar um disco (se fosse menos talentoso fazia um blogue).

No fundo esta é a essência de toda a arte - o desejo de impressionar alguém e ir para a cama com essa pessoa, por amor ou ódio, não interessa. Picasso uma vez disse que gostava de ter relações sexuais com toda a população mundial. Ok, ele nunca disse isso. Talvez Dali o tenha dito, ou pelo menos, considerado a hipótese.

Maybe You've Been Brainwashed Too dos New Radicals não deixa de ser uma obra pueril (oh, claro) e imatura (certamente) sobre o amor na pós-adolescência e todo o seu histerismo, entusiasmo, ressabianço, perda, mesquinhez, desejo sexual, frustração, ciúme, paixão e rejeição, aqui e ali disfarçados com alusões negativas à sociedade de consumo e a vontade de dar um pontapé no rabo dos Hanson e do Marylin Manson (quem não quereria?). Mas é das boas.

A tocar aí ao lado, a faixa que encerra o disco - Crying Like a Church on Monday.

Aí em baixo, the Church of the Immaculate Heart of Mary (Brompton Oratory), London SW7 2RP.

sexta-feira, setembro 15, 2006

No fundo continuo a achar que tenho razão, não sei é bem sobre o quê

Depois de reler quatro vezes o post anterior, escrito durante a hora de almoço, e de ter constatado que o mesmo deixa claramente antever uma frágil coesão argumentativa sobre o assunto a que se refere, demonstrando que tento acercar-me de limites de assuntos que não domino (começo a perceber que não existe nenhum assunto que eu domine) e cujo conhecimento se resume a uma série superficial de artigos em revistas científicas e uma dezena de livros sobre ciência (dos quais normalmente só percebo metade e de que apenas retenho um quarto da informação); remeto os interessados sobre esta discussão para o blogue Memória Inventada. Não sei se o debate será «de jeito», mas promete ser inteligente e divertido.

quinta-feira, setembro 14, 2006

It's on, baby, it's on

Não sei se o debate evolucionismo/criacionismo pode ser «de jeito». Nem percebo bem que regozijo advém para um «adepto do evolucionismo» enfiar-se numa discussão que está subvertida desde o exacto momento em que se admite que existe a possibilidade de «debate». Richard Dawkins e o falecido Stephen J. Gould recusavam-se a confrontar «criacionistas» directamente, porque perderam a paciência com a retórica dos adversários e não reconheciam ao «criacionismo» a legitimidade científica para entroncar num debate desse género. E Dawkins e Gould foram muitas vezes vozes dissonantes (e por vezes de forma agressiva) sobre os contornos de alguns aspectos da própria teoria da evolução.

Já perdi tempo com muitos links no post anterior que explicam porque é que o Intelligent Design não é uma ciência ou que a teoria da evolução não pretende explicar a inexistência ou existência de Deus. Esse tipo de conclusões não interessam à componente científica da teoria da evolução. Se eu, com a minha limitada biologia do 9º ano e a minha Religião e Moral do 6º ano, consigo entender isto, não percebo qual é a confusão. A teoria da evolução é, indubitavelmente, falseável. Por isso é que é científica. O Intelligent Design é uma pseudociência. O debate nunca poderá ser de jeito.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Apenas, apenas, apenas

Uma nota acerca do Intelligent Design, essa «teoria científica que surge fundada em si mesmo e não contra o darwinismo». [Palavras de Rogério Matias citadas no Voz do Deserto, o bold é meu].


- Deus Existe e é Grande Como Uma Banana:





Não sei se vale a pena. Mas outra nota, com mais bolds meus:

- [...] «ID is essentially a hoax, however, since evolution is consistent with a belief in an intelligent designer of the universe. The two are not contradictory and they are not necessarily competitors. ID is proposed mainly by Christian apologists at the Discovery Institute and their allies, who feel science threatens their Biblical-based view of reality.» [...] http://skepdic.com/intelligentdesign.html

E outra:

[...] «Creationism, intelligent design, and other claims of supernatural intervention in the origin of life or of species are not science because they are not testable by the methods of science. These claims subordinate observed data to statements based on authority, revelation, or religious belief. Documentation offered in support of these claims is typically limited to the special publications of their advocates. These publications do not offer hypotheses subject to change in light of new data, new interpretations, or demonstration of error. This contrasts with science, where any hypothesis or theory always remains subject to the possibility of rejection or modification in the light of new knowledge.» Science and Creationism: A View from the National Academy of Sciences


Eu sei que tinha dito que seria só uma. Paciência, está aqui outra, sem bolds ou sequer a própria nota, mas um bom link:

- 15 Answers to Creationist Nonsense - Scientific American


Ah, e evolucionismo e darwinismo não são bem a mesma coisa.

E sim, infelizmente isto dá-me algum gozo.

Achtung Blah blah blah (a tocar aí ao lado, blah blah blah)



Numa das minhas tentativas de reproduzir esta incrível versão do Time After Time na guitarra (faltava-me um Biréli Lagrene ao lado para disfarçar a falta de talento), alguém apontou com conhecimento: «ah, essa música é do Miles Davis»; como se isso fosse necessário para elevá-la a um qualquer estatuto de respeitabilidade.

De facto, o Miles Davis tem uma versão do Time After Time no LP Under Arrest, mas não passa de isso mesmo - um cover. Cover esse, ou versão (como preferirem), que presta tributo a outro génio musical - Cindy Lauper - e a alguém, com nome de quem faz música para musicais, chamado Robert Andrew Hyman.

Este é outro cover do Time After Time, and a bloody good one. Biréli Lagrene e Sylvain Luc, no álbum Duet. Espero sinceramente que as pessoas de bom gosto que visitam este blogue (todas as seis) não o encontrem para qualquer tipo de download pirata, comprem o disco, porque os senhores merecem.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Bum, tchiki tchiki, bum - tchaka zulo - bum tchaka, bum tchaka, icky icky hey hey: dick cheney

Outro dia alguém me dizia que gostava de escrever. Que escrevia crónicas já não me lembro para onde. Ah, que giro. E preferes escrever sobre o quê, ou o quê, pergunto. Escrever sobre nada, ou sobre o tudo, escrever por escrever. Pelo som das palavras. A cadência da frase, a métrica da pontuação, o ritmo do parágrafos. Aqui deu-me qualquer coisa que deve ser a agonia do período. Imagino textos sobre restolhos e esteiras que rastejam e empoeiram à beira de um escolho. Aliterações, aliterações a mais para qualquer ser humano decente.

Desconfio de pessoas que gostam de fazer as coisas pelo prazer de as fazer. Comer pelo prazer de comer? Ouvir música pelo prazer de ouvir música? Foder pelo prazer de foder? Falta aqui qualquer coisa.

sábado, setembro 09, 2006

O bom artista é aquele que oscila entre o genial e o aberrante

Falaremos melhor sobre isto. Bom fim-de-semana.

É que não me lembro nada de ter posto um chapéu de palha


Também não sei quem são estas pessoas, mas isso já não estranho.

terça-feira, setembro 05, 2006

'once upon a time, there lived a boy and a girl'

«One beautiful April morning, in search of a cup of coffee to start the day, the boy was walking from west to east, while the girl, intending to send a special-delivery letter, was walking from east to west, but along the same narrow street in the Harajuku neighborhood of Tokyo. They passed each other in the very center of the street. The faintest gleam of their lost memories glimmered for the briefest moment in their hearts. Each felt a rumbling in their chest. And they knew:

She is the 100% perfect girl for me.

He is the 100% perfect boy for me.

But the glow of their memories was far too weak, and their thoughts no longer had the clarity of fouteen years earlier. Without a word, they passed each other, disappearing into the crowd.

Forever.

A sad story, don't you think?»


[Haruki Murakami, On seeing the 100% perfect girl one beautiful April morning]

Indisputable Genius

sexta-feira, setembro 01, 2006

Have a nice one

Eehhhh-yeahhhhhhh

Grandes momentos musicais, aqueles curtos e enormes segundos que aparecem no meio de grandes músicas. Ou no fim, não interessa.

Começamos com Marvin Gaye. Let's Get It On, já falamos aqui sobre Let's Get it On. É sublime, é a intensidade e a verdade do desejo sexual em canção, traduzido neste eehhhh-yeahhhhh. Porque o sexo pode ser sublime, aliás, o sexo deve ser sublime. Oiçam (não sei bem porquê, tem de se carregar duas vezes no play):



Logo a seguir ao verso I've been sanctified, palmas (clap clap) e - eehhhh-yeahhhhh.

Outra vez, agora só o eehhhh-yeahhhhh:



Mais sublime, intenso, santificado, torna-se difícil. Ok, há o êxtase de S. Teresa esculpido pelo Bernini. Só esse.




Adiante. Ella Abraça Jobim, álbum de 1981 onde Ella Fitzgerald canta - duh - Jobim. Ella Fitzgerald é, mais do que uma cantora, um génio musical. Nunca deixe ninguém dizer o contrário. Jobim é outro génio musical. Infelizmente o disco conta com um alinhamento de músicos em que, quase todos, são génios musicais. Infelizmente porque se torna díficil concentrar nas genialidades individuais, apreciar todas as harmonias da voz de Ella, a guitarra de Joe Pass, o baixo de Laboriel, a percussão de Paulinho da Costa, o Sax de Zoot Sims, a Harmónica de Thielemans, etc., etc. Difícil, mas não impossível.

Neste excerto, Joe Pass e Abraham Laboriel tomam conta da adaptação banal para o inglês de Ela é Carioca (no álbum - He's a Carioca) e mostram quem manda. Reparem na entrada subtil do solo de guitarra de Joe Pass a partir dos cinco segundos, por favor, reparem:






Branford Marsalis, durante a gravação de Shadows in the Rain, do álbum Dream of The Blue Turtles, o primeiro a solo do Sting, pergunta à banda o tom em que está a música. Branford Marsalis não precisa de saber o tom da música, porque Branford Marsalis é Branford Marsalis, tendo tocado com Miles Davis - 'nuff said. Nunca saberemos porque o fez, mas não deixa de ser engraçado. Grande opener de canção também: woke up in my clothes again this morning - who hasn't?




Falar sobre Sting sem falar sobre os The Police é a mesma coisa que falar de David Fonseca sem falar de Silence 4. As únicas grandes diferenças é que os primeiros eram músicos de uma qualidade excepcional e não se suportavam; os segundos, infelizmente, não tinham nenhuma destas características, imagine-se a felicidade de ver o David Fonseca ao tabefe com aquela miúda que trabalhava na fábrica de salsichas.

A animosidade entre os elementos dos The Police (sobretudo entre Sting e o baterista Stewart Copeland) era tão estimulante que até originava momentos deste calibre em pleno concerto:



Sting - I feel so... I feel so... I feel so lonely!
Stewart C. - I'm not surprised!
Sting - ah... ah... ah... ah...




E aqui, Paolo Conte num momento de deliciosa demência verbal:



E aqui, Damien Rice num momento de delicioso ressabianço amoroso:






Para terminar, uma das melhores canção de sempre. One. One. One. One. Versão ao vivo, com a orquestra do Pavarotti & Friends. Os versos finais que só são cantandos pelo Bono em concerto, não estão na versão de estúdio, desta vez acompanhados por uma full-blown orchestra. Assim:



Às vezes oiço o primeiro verso como Do you hear me coming, Lord, outras como Do you hear me coming, Love; não sei qual é que prefiro, acho que depende do momento.

Do you hear me call? Hear me knocking, knocking at your door. Do you hear me coming lord, hear me call, feel me scratching, will you make me crawl?

Uma oração, uma súplica, um aviso? Acho que é tudo.

Boa noite.
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