C
On the arm of my best friend
I knew whatever happened
Our friendship would end
Chemical reaction, desire at first sight
Mystical attraction, turned out all my lights
[St. Augustine in Hell, Sting]
Um amigo contou-me que há umas semanas o Conan O'Brien perguntou ao Ice-T o que é que ele andava a ouvir. O rapper terá dito qualquer coisa como:
- You won't believe this, but the other day I was driving somewhere and I was playing the New Radicals album really loud.
O meu amigo contou-me a história porque lá para Julho, quando fui a casa dele, cheguei e disse-lhe:
- Nem vais acreditar, mas vim no carro a ouvir o álbum dos New Radicals aos berros. (está documentado)
Eu acredito em coincidências. Acredito em bonitas e felizes coincidências, em coincidências de merda, em coincidências inacreditáveis e em coincidências convincentes e coincidentes. Não percebo as pessoas que dizem que não há coincidências e exclamam «oh, porque tudo acontece por uma razão!»; como se um acontecimento e a sua razão fossem coisas estreitamente relacionadas. E, mesmo que não acreditasse em coincidências, a história que contei acima nunca poderia ser mais do que uma coincidência, não obstante o facto de ter acontecido por alguma razão. Ergo, bitch, acabo de provar ao mundo que existem mesmo coincidências.
Há qualquer coisa de inconsistente na riqueza eclética do álbum de estreia (e de fim) dos New Radicals. Alguma parolice, até, no meio de grandes momentos líricos e instrumentais que pontuam nesse Maybe You've Been Brainwashed Too (1997). Já a berraria contra a máquina corporativa americana, por exemplo, seria confrangedora se não tivesse piada. As referência às drogas, por exemplo, seriam infantis se não parecessem descomplexadas. A banalidade de algumas metáforas, por exemplo, seria BonJoviana, se não fosse arrancada a ferros.
Mas o que se torna evidente, e daí a redenção do álbum, é que toda a razão de ser do disco é uma miúda. Este Maybe You've Been Brainwashed Too (o título é só para disfarçar) só pode ser por causa de, e para, uma miúda gira, impulsiva, insegura, intensa, mais esperta do que ele e, aposto, sexualmente voraz - my type of gal. Ele não está muito feliz, acha que tem de lhe dizer qualquer coisa, não sabe bem o quê, e por isso resolve gravar um disco (se fosse menos talentoso fazia um blogue).
No fundo esta é a essência de toda a arte - o desejo de impressionar alguém e ir para a cama com essa pessoa, por amor ou ódio, não interessa. Picasso uma vez disse que gostava de ter relações sexuais com toda a população mundial. Ok, ele nunca disse isso. Talvez Dali o tenha dito, ou pelo menos, considerado a hipótese.
Maybe You've Been Brainwashed Too dos New Radicals não deixa de ser uma obra pueril (oh, claro) e imatura (certamente) sobre o amor na pós-adolescência e todo o seu histerismo, entusiasmo, ressabianço, perda, mesquinhez, desejo sexual, frustração, ciúme, paixão e rejeição, aqui e ali disfarçados com alusões negativas à sociedade de consumo e a vontade de dar um pontapé no rabo dos Hanson e do Marylin Manson (quem não quereria?). Mas é das boas.
A tocar aí ao lado, a faixa que encerra o disco - Crying Like a Church on Monday.
Aí em baixo, the Church of the Immaculate Heart of Mary (Brompton Oratory), London SW7 2RP.
Falaremos melhor sobre isto. Bom fim-de-semana.
[Haruki Murakami, On seeing the 100% perfect girl one beautiful April morning]